sábado, 27 de outubro de 2012

O fim da farsa


Biografia do guerrilheiro Carlos Marighella desmonta a versão oficial do assassinato do militante comunista e confirma reportagem de ISTOÉ

Alan Rodrigues

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PÁGINAS HISTÓRICAS
Dividido em 43 capítulos, o livro-reportagem discorre
sobre os tropeços e triunfos do ex-líder da ALN
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O regime militar instalado no Brasil em 1964 e que se manteve no poder por mais de 20 anos deixou um saldo macabro de 475 mortos – 163 deles ainda desaparecidos. Entre os militantes assassinados nos anos de chumbo está o guerrilheiro Carlos Marighella, líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), cuja história da morte, em 1969, sempre esteve envolta em mistérios. A versão oficial dá conta de que o guerrilheiro foi abatido dentro de um automóvel depois de sacar uma arma e resistir à prisão. Logo em seguida, ainda de acordo com essa versão, teria acontecido um tiroteio entre as forças públicas e seguranças da ALN, que resultou na morte de outras duas pessoas.

Agora, depois de mais de quatro décadas, o jornalista Mário Magalhães contraria tudo o que já foi publicado sobre o caso. Em “Marighella, o Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo” (Companhia das Letras), o autor desmonta a tese oficial ao revelar que Marighella estava desarmado ao ser morto dentro do carro. O jornalista ainda conta na publicação que a troca de tiros entre os policiais e os guerrilheiros nunca aconteceu, pois Marighella estava sozinho. Entre as 588 páginas da obra, Magalhães revela que o ex-deputado comunista não andava armado. Tampouco escoltado por seguranças. “Foi fogo amigo”, afirma Magalhães no livro.

Sua convicção está amparada em uma investigação rigorosa com 256 pessoas entrevistadas em nove anos de pesquisa. Ao desmontar a farsa da morte de Marighella, o livro confirma reportagem de ISTOÉ, publicada em março, que revelou o teatro montado pelos policiais para esconder como de fato foi assassinado o líder da ALN. “Eu vi os policiais colocando o corpo do Marighella no banco de trás do carro”, afirmou o fotógrafo Sérgio Vital Jorge.

Temido por sua valentia e coragem, Marighella era considerado o inimigo número 1 dos militares. Perseguido pelas forças de repressão nacional e monitorado tanto pela agência de inteligência americana CIA como pela russa KGB, Mariga, como era tratado pelos amigos, foi um dos mais destacados revolucionários do século XX. Os policiais tratavam-no como o Che Guevara nacional. Entre as passagens da vida do guerrilheiro contadas pelo autor, chama a atenção um paradoxo: Marighella não acreditava no triunfo da guerrilha na cidade, mas, sim, que as ações urbanas estavam fadadas ao fracasso. “Pouco antes da morte, ele preparava-se para ir para o meio rural”, diz Magalhães.
Para esquadrinhar os passos de Marighella, o autor debruçou-se sobre mais de 600 títulos, além de garimpar material em 32 arquivos públicos e privados espalhados pelo País. Em um dos 43 capítulos, ele mostra, por exemplo, que o chefe da ALN teve que se tratar com remédios e sessões de análise quando se tocou de que o líder russo Josef Stalin era um engodo. A publicação revela também o lado romântico do guerrilheiro, a partir dos conflitos da paixão, ciúmes e agruras de uma vida em sobressalto. “Chequei obsessivamente cada versão, sabedor das traições e idiossincrasias da memória”, afirma Magalhães. “O livro não promove o personagem principal da história, ou é um libelo de oposição a ele. O trabalho é uma reportagem que escrutina seus triunfos e tropeços, grandezas e pequenezas, os altos e baixos próprios da espécie humana”, diz Magalhães.

Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/249045_O+FIM+DA+FARSA



domingo, 7 de outubro de 2012

Há 50 anos, crise dos Mísseis em Cuba quase detonou uma guerra nuclear


Descoberta pelos Estados Unidos de que os soviéticos instalavam mísseis nucleares na ilha foi o momento de maior tensão da Guerra Fria e quase terminou em catástrofe


Duda Teixeira, Nathalia Watkins e Tamara Fisch
O PESO DA DECISÃO - John Kennedy no Salão Oval da Casa Branca, em 1962: a maneira como seu governo resolveu a crise serve de lição a todos os presidentes dos EUA desde então
O PESO DA DECISÃO - John Kennedy no Salão Oval da Casa Branca, em 1962: a maneira como seu governo resolveu a crise serve de lição a todos os presidentes dos EUA desde então  (NBC/Getty Images)

As 7 horas da noite de 22 de outubro de 1962, a história aproximou-se do precipício. Em um pronunciamento na televisão, o presidente americano John Fitzgerald Kennedy anunciou que os soviéticos haviam instalado mísseis nucleares em Cuba. O flagrante fora obtido por um avião espião U-2 no dia 14 daquele mês. Era uma ameaça inaceitável, cujo agravamento Kennedy tentou conter com um bloqueio naval a Cuba. Na matemática da Guerra Fria, acreditava-se que a reação a um ataque só teria efeito se fosse imediata. Por isso, o governo americano elevou o nível do alerta nuclear para DEFCON 2, o que, entre outras medidas, fez decolar de suas bases na Europa os aviões B-52 carregados com bombas nucleares e com a proa para Moscou. O mundo nunca esteve tão perto da hecatombe nuclear. Kennedy disse aos membros do seu gabinete de crise que o risco de isso ocorrer chegara a um em três. O impasse durou treze dias, ao fim dos quais as duas superpotências inimigas conseguiram contornar os chamados às armas por meio da diplomacia. Para desilusão dos líderes cubanos, ansiosos por iniciar uma guerra nuclear, Kennedy e o líder soviético Nikita Kruschev chegaram a um acordo. Os russos retiraram as armas da ilha e os americanos se comprometeram a não invadir Cuba e a desmantelar seus mísseis (obsoletos) na Turquia. O episódio teve como saldo a renovação da fórmula de contenção mútua. Três décadas mais tarde, a União Soviética se desintegrou, vítima dos próprios fracassos internos e não de um ataque nuclear externo.
O PERIGO TOMOU CORPO - Nikita Kruschev com o cubano Fidel Castro, em 1960 (à esq); foto feita por avião americano mostra o navio Kasimov levando peças de bombardeiros IL-28 a Cuba, em setembro de 1962; e alguns dos 43 000 soldados soviéticos que desembarcaram marchando na ilha com roupas civis: a instalação do arsenal atômico foi iniciativa dos soviéticos, que tentaram disfarçar a empreitada
Bettmann/Corbis/Latinstock e Mavi archive
O PERIGO TOMOU CORPO - Nikita Kruschev com o cubano Fidel Castro, em 1960 (à esq); foto feita por avião americano mostra o navio Kasimov levando peças de bombardeiros IL-28 a Cuba, em setembro de 1962; e alguns dos 43 000 soldados soviéticos que desembarcaram marchando na ilha com roupas civis: a instalação do arsenal atômico foi iniciativa dos soviéticos, que tentaram disfarçar a empreitada

Os mísseis foram instalados em Cuba para coibir uma invasão americana
MITO - Embora essa tenha sido a desculpa usada, as razões foram outras. Os historiadores descobriram recentemente que a ideia de instalar as armas nucleares na ilha foi dos soviéticos, não dos cubanos. A União Soviética buscava um equilíbrio militar em relação aos Estados Unidos. Os mísseis intercontinentais americanos, capazes de atingir a União Soviética, tinham o triplo do poder destrutivo dos similares dos rivais. O arsenal de médio alcance instalado a 230 quilômetros da Flórida poderia reduzir essa desvantagem. Fidel Castro só aceitou a proposta depois de muita insistência. “Não para aprimorar nossa defesa, mas primordialmente para fortalecer o socialismo no plano internacional”, disse Castro.

Os soviéticos fingiam que os mísseis eram árvores
VERDADE - O plano era anunciar a existência do arsenal no fim de 1962. Para esconderem o projeto, alguns militares soviéticos desembarcaram em Havana vestindo camisas coloridas. Queriam ser confundidos com turistas. Do porto, porém, saíam marchando em filas, tornando o disfarce inócuo. As armas começaram a ser camufladas, com folhas, só depois que os americanos já sabiam de sua existência. Os soviéticos achavam que podiam fazer com que os mísseis de 22 metros de comprimento fossem confundidos com palmeiras. Não deu certo.

Ao decidir não atacar a ilha, Kennedy evitou um conflito nuclear
VERDADE - Ao ver as fotos aéreas das instalações de mísseis em Cuba, John Kennedy ouviu de seus conselheiros que tinha duas alternativas. A primeira, apoiada pela maioria dos membros do Comitê Executivo do Conselho Nacional de Defesa (ExComm), era invadir a ilha e destruir o arsenal soviético. O secretário de Defesa, Robert McNamara, se opunha ao ataque. A segunda opção era conformar-se com a existência de um arsenal atômico inimigo no quintal de casa. Kennedy criou uma terceira via. Ele abriu espaço para negociar com os russos, mas com um prazo bem definido. Paralelamente, por sugestão do procurador-geral Robert Kennedy, seu irmão, ordenou um bloqueio naval. Todos os barcos que se aproximassem da ilha seriam vistoriados. Com a medida, catorze navios com armas retornaram à União Soviética. Kennedy definiu que, se as bombas já em solo cubano não fossem retiradas até 28 de outubro, um ataque ocorreria nas 48 horas seguintes. Os soviéticos respeitaram o ultimato. Em troca receberam o compromisso público de Kennedy de não interferir em Cuba e a promessa, mantida em segredo, de retirar os mísseis americanos instalados na Turquia. Se Kennedy tivesse acatado a primeira recomendação de seus conselheiros, os oficiais soviéticos em Cuba teriam revidado com mísseis táticos nucleares, pois não precisavam de autorização de Moscou para dispará-los no caso de uma invasão. 
AMEAÇA NO AR - Abrigo nuclear para uma família de cinco pessoas, à esquerda; Kennedy em frente aos lançadores de mísseis Honest John, em Fort Stewart, na Geórgia; e protesto de mulheres pela paz, em Nova York: a aprovação do presidente subiu de 63% para 74% após o fim da ameaça em Cuba
Walter Sanders/Getty Images, Corbis/Latinstock e AP
AMEAÇA NO AR - Abrigo nuclear para uma família de cinco pessoas, à esquerda; Kennedy em frente aos lançadores de mísseis Honest John, em Fort Stewart, na Geórgia; e protesto de mulheres pela paz, em Nova York: a aprovação do presidente subiu de 63% para 74% após o fim da ameaça em Cuba
O mundo esteve à beira da destruição

VERDADE - Em 1963, John Kennedy contou em um discurso o que aconteceria se houvesse um conflito nuclear. “Poderia matar 300 milhões de americanos, europeus e russos, assim como inúmeros outros. Os sobreviventes, como disse o presidente Kruschev, invejariam os mortos. Pois eles herdariam um mundo devastado por explosões, veneno e fogo, cujos horrores hoje nem sequer somos capazes de imaginar.” Segundo a teoria do “inverno nuclear”, criada nos anos 1980, as explosões levantariam nuvens de poeira e material radioativo. O material bloquearia a luz do sol e poderia causar a extinção da vida no planeta.

Já no fim do impasse, Fidel propôs disparar os mísseis contra os EUA
VERDADE - Em 26 de outubro, Kruschev enviou uma carta a Kennedy cogitando retirar os mísseis. No mesmo dia, Fidel enviou uma mensagem ao soviético em que sugeria duas saídas para a crise, nenhuma delas pacífica. “A primeira e mais provável é um ataque aéreo contra certos objetivos, com a missão limitada de destruí-los. A segunda, menos provável mas possível, é uma invasão completa (dos Estados Unidos).”

Che Guevara queria se salvar, abandonando os cubanos à própria sorte
VERDADE - Para o argentino, os cubanos estavam dispostos a morrer pelo socialismo. “É o exemplo tremendo de um povo disposto ao autossacrifício nuclear, para que suas cinzas sirvam de alicerce para uma nova sociedade”, disse Che. Ele e os demais membros do governo, no entanto, planejavam se abrigar em bunkers instalados na embaixada soviética, na casa de Fidel Castro e em uma caverna perto de Havana.
MEDO E SACRIFÍCIO - Americanos assistem ao discurso em que o presidente John Kennedy anuncia a existência de mísseis nucleares em Cuba, em 1962 (à esq.), e a primeira-dama Jackie com o filho John Jr. Ela não queria ser levada para um lugar seguro com os filhos sem o marido
Ralph Crane/Getty Images e AFP
MEDO E SACRIFÍCIO - Americanos assistem ao discurso em que o presidente John Kennedy anuncia a existência de mísseis nucleares em Cuba, em 1962 (à esq.), e a primeira-dama Jackie com o filho John Jr. Ela não queria ser levada para um lugar seguro com os filhos sem o marido

Jacqueline Kennedy ofereceu-se para morrer ao lado do marido
VERDADE - Quando descobriu que os soviéticos instalavam mísseis em Cuba, a primeira-dama americana implorou ao presidente que não a mandasse para um lugar seguro. “Eu quero morrer com você, e as crianças também”, disse ela.

O governo brasileiro ajudou a negociar uma saída para o impasse
MITO - Kennedy de fato solicitou ao presidente João Goulart que conversasse com Fidel. Em 25 de outubro, porém, dias após ter votado a favor do bloqueio naval contra Cuba na Organização dos Estados Americanos (OEA), o governo brasileiro deu um passo atrás. Jango pediu garantias aos americanos de que não invadiriam a ilha e se declarou publicamente contra as sanções. Leonel Brizola, cunhado de Jango, eleito deputado pelo estado da Guanabara, disse que as fotos feitas pelos aviões U-2 eram falsas e fez discursos raivosos contra os Estados Unidos. No fim, Kennedy e Kruschev se entenderam sem precisar da ajuda brasileira. 

Depois da crise, a Casa Branca e o Kremlin instalaram o “telefone vermelho”, uma linha direta entre os presidentes das duas potências, para facilitar a solução de impasses futuros
EM TERMOS - A lentidão nas comunicações ficou evidente ao longo de outubro de 1962. Para falar com Kruschev, o presidente americano enviava mensagens ao embaixador soviético em Washington por meio de seu irmão Bob Kennedy. As mensagens eram codificadas e enviadas a Moscou por telegrama. Quando precisavam agilizar o processo, os líderes dos dois países faziam discursos nas rádios com recados para os rivais. Depois do impasse em Cuba, americanos e soviéticos começaram a usar o teletipo, um precursor dos aparelhos de fax. A linha telefônica direta e exclusiva foi utilizada somente a partir dos anos 70. Foi por meio dela que o presidente russo Vladimir Putin se tornou o primeiro chefe de estado a expressar condolências a George W. Bush pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. 

Sabe-se mais sobre os bastidores da crise nos EUA do que na União Soviética
VERDADE - Por um ano e quatro meses, as reuniões no Salão Oval e no gabinete da Casa Branca, além de conversas telefônicas, foram gravadas a pedido de John Kennedy. Os equipamentos ficavam no porão da Casa Branca e o presidente os ligava ou desligava por meio de botões escondidos nas duas salas. Ao todo, 248 horas de conversas foram gravadas desde julho de 1962. O conteúdo dos arquivos passou a ser revelado a partir de 1993. No mês passado, um livro do historiador Ted Widmer revelou as últimas 45 horas de gravações. Do lado dos russos, há relatos esparsos de oficiais que participaram de encontros na União Soviética com os cubanos, algumas cartas, telegramas e memorandos de reuniões.

Especialistas consultados: Christian Ostermann (Centro Wilson), Robert Jervis (Universidade Colúmbia), Timothy J. McKeown (Universidade da Carolina do Norte), Graham Allison (Universidade Harvard), Konstantin Khudoley (Universidade de São Petersburgo), Boris Martynov (Universidade de Relações Internacionais de Moscou), Boris Shiriaev (Universidade Estadual de São Petersburgo), Bruno Borges (PUC-Rio), o historiador Chris Pocock e Sarah Lichtman (Faculdade Parsons).

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O combatente arrependido


No centenário da Guerra do Contestado, livro revela documento inédito de um soldado que participou da morte de mais de dez mil brasileiros, mesmo condenando a intervenção do governo

Michel Alecrim
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Milhares de soldados do Exército brasileiro são enviados para combater uma revolta de caboclos incentivados por um líder messiânico. Deu-se assim a Guerra de Canudos (1896/97), mas essas poucas linhas também poderiam resumir outra passagem histórica muito menos explorada: a Guerra do Contestado, cuja primeira batalha completa 100 anos em outubro. As lutas sangrentas que mancharam a divisa entre o Paraná e Santa Catarina durante quatro anos não provocaram a mesma comoção que os confrontos narrados em “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. No entanto, vêm ganhando visibilidade e vão contribuir muito para isso as “Memórias” do general Vieira da Rosa, guardadas durante décadas pelo Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e publicadas agora em parceria com o Ministério Público do Estado. O militar que combateu os revoltosos no front fez de seus relatos uma contundente denúncia dos desmandos dos governantes e do drama vivido nos dois lados. Lições que, se tivessem sido ouvidas antes, poderiam ter evitado as mais de dez mil mortes ocorridas.
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Vieira da Rosa (1869-1957) chegou ao posto de general, mas serviu no Contestado como capitão. Trazia no currículo a participação na Revolução Federalista de 1893, no Rio Grande do Sul, e se destacava na caserna pela grande erudição. Segundo ele, no conflito “viu-se um derramar de torrentes de sangue patrício, a confissão de inépcia de nossas forças armadas, a covardia de chefes militares e a falta de preparo profissional”. O desconhecimento do Exército de dados básicos como a topografia da região e as estratégias dos inimigos são apontadas em seus escritos. Dessa forma, combates que inicialmente se mostravam desastrosos para as forças oficiais só fortaleciam a fé dos fanáticos que adoravam o monge José Maria, uma espécie de Antônio Conselheiro de então, morto logo no início da revolta. Em muitos momentos, as emboscadas dos valentes caboclos davam ideia de que o protetor operava mesmo milagres. Com tropas famintas em árduas caminhadas pela mata, era difícil enfrentar os rebeldes. Por falta de treinamento, soldados pareciam às vezes atirar a esmo. Assim Vieira da Rosa descreve o efeito do fogo amigo: “Os soldados, sem ordem, atiravam uns sobre os outros, na sofreguidão de chegar ao inimigo ou na ânsia de gastar a munição, que lhe pesava na patrona.” Sob os pinheirais só se viam horrores, muitos praticados pelos jagunços: “À margem de um arroio limpíssimo estavam 12 mulheres mortas a facão, e que golpes, santo Deus, de tirar o occipital inteiro. Os abutres e os guaraxains já haviam limpado de toda a carne aqueles pobres corpos.”
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O Contestado ganhou esse nome devido à disputa territorial entre os dois Estados sulistas, com a vitória de Santa Catarina no Supremo Tribunal Federal. A maior motivação do conflito, entretanto, foi a entrega das terras pleiteadas à companhia que construía uma estrada de ferro interestadual. Na época, o Exército ainda combatia ao toque da corneta, mas há registros de que aviões foram usados. Vieira da Rosa, que mais tarde apoiaria o tenentismo, apontava a frivolidade da elite como a culpada pela carnificina. De origem açoriana, ele defendia os nativos: “Eu sou pelo caboclo.” Via neles um exemplo de moralidade, hospitalidade e pureza de costumes. “O erro dos governos, das religiões, das sociedades e o das simples individualidades tem sido em todos os tempos a intolerância. Ela fez, faz e fará derramar muito sangue”, conclui.
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Disponível em:
http://www.istoe.com.br/reportagens/241456_O+COMBATENTE+ARREPENDIDO

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Uma classe média mais negra


Antes concentrados na base da pirâmide de rendimentos, os negros são 80% dos 35 milhões de pessoas que subiram socialmente, apontando para um país mais homogêneo

Flávio Costa, Mariana Brugger e Natália Martino
Chamada.jpg RUMO AO EXTERIORRosana Paz e Nelson Oliveira preparam a viagem do filho Felipe à Disney

RUMO AO EXTERIOR
Rosana Paz e Nelson Oliveira preparam a viagem do filho Felipe à Disney
Há dez anos, os cariocas Edilson Martins Pinto, 41 anos, e Vera Lúcia Nascimento, 42, começaram a namorar. Ele, um designer freelancer, e ela, psicóloga formada que trabalhava como atendente de telemarketing, viviam uma vida sem luxos e dependiam da ajuda dos pais, especialmente quando resolveram se casar. Dois anos depois, nasceu Nina e a situação apertou. As famílias deram o enxoval e compraram as fraldas da criança. Em poucos anos, tudo mudou. Quando Daniel nasceu, em 2010, o casal dispensou até o chá de bebê. A família de Edilson faz parte dos 80% dos negros que ascenderam à classe média segundo a pesquisa da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, divulgada na semana passada. No total, 35 milhões de brasileiros subiram para essa faixa social na última década.
“Nós não tínhamos os luxos que temos. Já cortaram nossa luz por falta de pagamento quando nos casamos. Hoje, tenho quatro computadores, smartphone, duas televisões de LED, empregada doméstica e planejo até nossa primeira viagem internacional”, conta Edilson, que guarda dinheiro na poupança. Nina, 7 anos, estuda em uma boa escola particular e Daniel irá para a creche no ano que vem. Depois de driblar uma falência há cinco anos e montar uma empresa de design em 3D em casa mesmo, Edilson melhorou de vida e agora os vencimentos mensais da família somam R$ 4 mil, o que os deixa no topo da faixa intermediária definida pela SAE, cuja renda per capita varia de R$ 291 a R$ 1.019. A ascensão dos negros é um dos fenômenos mais importantes da nova classe média. Agora, eles são mais da metade dos integrantes dessa faixa social que há dez anos era 38% da população e hoje chega a 53%, ou 104 milhões de pessoas. É um grupo que detém uma massa de renda de R$ 680 bilhões. Desse total, R$ 352,9 bilhões são rendimentos de negros, quase o dobro do que os R$ 158,1 bilhões verificados há uma década. “A população negra era maioria absoluta da classe D e com a diminuição da desigualdade nos últimos anos é natural que ela tenha alcançado melhoras econômicas mais substanciais”, diz Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto de Pesquisas Data Popular, que subsidiou a pesquisa da SAE. Ao contrário do grupo de baixa renda que apenas tenta sobreviver, quem sobe para a classe média se preocupa com o futuro, em como manter os ganhos alcançados e em ascender mais. Eles começam a ter acesso a planos de saúde e investem em educação. Estudante de pedagogia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a jovem Stephane Santos, 20 anos, ainda lembra dos dias difíceis da família que migrou de Minas Gerais para São Paulo em busca de oportunidades. No início, o pai, Josélio, 49 anos, sustentava a mulher, Maria Margarete, 45, e os filhos trabalhando como pedreiro. Sem dinheiro para comprar móveis, um suporte e uma tábua faziam as vezes de mesa, tudo era reciclado. “Ganhávamos da igreja uma cesta básica mensal e uma bolsa em um curso de informática para mim e para minha irmã”, lembra Sthefane. A casa própria era o grande sonho da família, mas naquele momento tratava-se de um desejo quase inalcançável. Esse cenário começou a mudar quando Margarete aprendeu o ofício de bordadeira e entrou no mercado de trabalho há sete anos. As meninas, ainda adolescentes, além de estudar, começaram a trabalhar com a mãe para complementar os rendimentos e então os sonhos começaram a se realizar. Com uma renda familiar de pouco mais de R$ 3 mil, hoje os Santos têm casa própria quitada, carro, computador, eletrodomésticos, vida cultural e viajam para Minas todo ano para ver os parentes. “Antes, só os visitávamos quando acontecia uma tragédia e eles nos enviavam dinheiro para a viagem. Agora viajamos para vê-los todo ano”, diz Stephane. João Elias, o caçula da família, 12 anos, talvez seja o maior beneficiado da bonança. “Ele não vai começar a trabalhar cedo como as meninas. Vamos investir na educação dele”, afirma, Maria Margarete.

Na década que passou, 6% da classe média ascendeu à alta. Com isso, a diversificação racial está chegando à elite, grupo do qual os baianos Rosana Paz, assessora parlamentar de 41 anos, e Nelson Oliveira, engenheiro de 43, fazem parte. Com dois carros na garagem e casa na praia, o casal prepara a viagem do filho de 14 anos à Disney nas férias. “Temos planos também de ir para Paris, que é um sonho do meu marido”, afirma Rosana, filha de uma lavadeira e de um guarda-civil que se formou em letras com a ajuda dos seis irmãos mais velhos. Diante dessas mudanças, a tendência, dizem os especialistas, é que o preconceito seja superado. “Não porque a discriminação vai diminuir, mas porque as pessoas vão perceber que se não tratarem bem esse grupo perderão uma parcela importante dos clientes para a concorrência”, afirma o antropólogo Reinaldo da Silva Soares, que defendeu uma tese de mestrado na Universidade de São Paulo (USP) sobre os negros na classe média.



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 disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/239738_UMA+CLASSE+MEDIA+MAIS+NEGRA  

sábado, 8 de setembro de 2012

Grito dos Excluídos reúne cerca de 600 pessoas em Belo Horizonte


 Protesto é tradição no Dia da Independência.
Manifestantes reivindicaram a reforma agrária no Brasil.

Cerca de 600 pessoas, segundo a Polícia Militar, participaram do protesto Grito dos Excluídos, em Belo Horizonte, nesta terça-feira (7). A manifestação já virou tradição no feriado da Independência do Brasil. Representantes de organizações sociais aproveitaram as comemorações para protestar.

A concentração começou em frente à Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), no bairro Santo Agostinho. De lá, os manifestantes seguiram para a região central da capital mineira.
O tema deste ano é "Onde estão os excluídos", e a principal reivindicação é a reforma agrária. Durante o protesto, foram coletadas assinaturas para um plebiscito popular. A proposta é estabelecer um limite da propriedade privada rural no Brasil.

Para o representante das pastorais sociais Emanuel Almada, a redistribuição da terra seria a solução para alguns problemas enfrentados pelo país. “A concentração de terra no Brasil é a raiz de vários problemas ambientais, econômicos e sociais, tanto no campo quanto na cidade”, disse.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (Cut-MG), Marco Antônio de Jesus, também saiu em defesa da reforma agrária. “Limitar o tamanho da terra para evitar que uns tenham terra de mais e outros de menos é importante para fazer a inclusão social”, falou.

Segundo a organização do protesto, cerca de 30 grupos sociais participaram do Grito dos Excluídos, entre eles movimentos antimanicomiais, de sem-terra, e pastorais sociais.

http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2010/09/grito-dos-excluidos-reune-cerca-de-600-pessoas-em-belo-horizonte.html

domingo, 2 de setembro de 2012

O segredo é a disciplina

Em matéria publicada no Jornal Estado de Minas do dia 17 de agosto de 2012 a jornalista Junia Oliveira destaca a importância da disciplina para a melhoria do rendimento dos alunos, esta tem como referência o Colégio militar de Belo Horizonte que obteve o melhor resultado do Índice da Educação Básica (Ideb) no Estado de Minas Gerais.

"Colégio Militar tem melhor nota de Minas em avaliação da educação básica para o 5º ao 9º ano. Destaque faz com que os alunos sejam disputados pelos maiores cursinhos de BH"

Retirando inspiração nas forças armadas, com salas de aula com lousa interativa, laboratórios de ponta, 85% do corpo docente tem mestrado ou doutorado, como apoio possuem consultórios médicos, enfermaria, dentista, psicólogo, assistência social e refeição aos alunos que têm atividades extraclasse, são as explicações para o sucesso dessa escola.

" Temos uma estrutura de disciplina que faz com que os alunos incorporem valores(...) esse é o nosso diferencial".

Esse é o exemplo a ser seguido: Que os professores continuem estudando até o doutorado, estrutura física adequada, recursos didáticos, rede de apoio e bons salários. Qualquer debate sobre educação que não inclua esses pontos estará fadado ao fracasso.

Carlos Vilela


domingo, 22 de julho de 2012

Comissão da Verdade investigará crimes cometidos contra índios na ditadura militar


São Paulo – A Comissão Nacional da Verdade também vai investigar os crimes praticados durante a ditadura militar contra os povos indígenas, com a participação ou a conivência do Estado. “É um tema que está no nosso planejamento. Vamos investigar isso, sim, porque na construção de rodovias há histórias terríveis de violações de direitos indígenas”, ressaltou nesta semana um dos membros da comissão, o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, após encontro com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.


O Grupo Tortura Nunca Mais vem se articulando com outras entidades, como a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, para reunir material sobre as violações contra os índios no período da ditadura. Segundo o vice-presidente do grupo, Marcelo Zelic, a política de extermínio promovida pelo regime é evidenciada em documentos públicos, como os que mostram que, na década de 1960, foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara dos Deputados para apurar os massacres de indígenas.


“Essa comissão é criada logo após a Comissão de Inquérito do Ministério do Interior ter produzido um relatório de 5.115 páginas.” O documento, de acordo com Zelic, desapareceu depois que o governo baixou o Ato Institucional nº 5 (AI-5), endurecendo o regime inaugurado pelo golpe de 1964 e aumentando a perseguição política a seus opositores.


“Nesse relatório estavam contidas as denúncias de corrupção no SPI [Serviço de Proteção aos Índios], antigo órgão que cuidava da tutela do índio. E esse relatório continha um estudo realizado pelo procurador-geral da República com os vários casos de violações de direitos humanos contra as populações indígenas”, completa.


Funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai) na década de 1970, o índio potiguar José Humberto do Nascimento, conhecido como Tiuré, foi testemunha de diversas ações dos militares contra os povos tradicionais. “A política indigenista oficial era de extermínio.”


De acordo com Tiuré, esses povos sempre foram tratados com descaso, mas o projeto de desenvolvimento do regime, associado a interesses estrangeiros, intensificou as perseguições. “O índio nunca foi respeitado, desde a época da colonização, mas não existia um extermínio tão sistemático como foi na ditadura.”


Tiuré conta ainda que quando percebeu as violências que eram praticadas contra os povos tradicionais resolveu deixar a Funai e atuar diretamente na defesa dos interesses das comunidades indígenas. Ele diz que esteve no sul do Pará, onde encontrou aldeias que eram exploradas em condições análogas à escravidão na extração da castanha. Segundo Tiuré, alguns militares se beneficiavam diretamente dessa situação.


Poucos anos mais tarde também presenciou os impactos negativos dos grandes projetos de infraestrutura, como a construção da Hidrelétrica de Tucuruí e de estradas que cortavam os territórios índigenas. Como as comunidades resistiram, Tiuré relata que houve confronto, inclusive com a prisão e morte de índios.


“O Exército chegava com a parafernalha militar, com aqueles comboios de jipes, atirando para cima, demonstrando a força que eles tinham. O confronto era direto, porque os índios enfrentaram. Com isso houve prisões, tortura, diversas formas de violações.”


Nessa época, Tiuré diz que voltou para a Paraíba, seu estado natal. Lá participou da resistência dos índios ao avanço da monocultura da cana-de-açúcar sobre as terras indígenas, impulsionada pela iniciativa governamental do Pró-Álcool. “Teve confronto, teve morte. Foi nesse momento que eu fui pego, sequestrado, torturado, colocaram fogo na minha residência”, conta sobre os confrontos contra a polícia e os capangas das usinas.


Por causa de histórias como essas, Marcelo Zelic defende que os índios devem ser ouvidos pela Comissão da Verdade. “Os indígenas precisam participar desse processo, contando o que viveram. Porque essa impunidade vai perdurar. E o mesmo mal que a impunidade causa nas sociedades das cidades, ela causa na aldeia”, ressalta.
http://www.hojeemdia.com.br/comiss-o-da-verdade-investigara-crimes-cometidos-contra-indios-na-ditadura-militar-1.132

Tatuagem nazista impede barítono russo de cantar na Alemanha


BERLIM - O barítono russo Evgueni Nikitin, que deveria interpretar o papel principal da nova produção da ópera "O Navio Fantasma" no Festival de Bayreuth, na Alemanha, desistiu de atuar devido à polêmica envolvendo uma tatuagem nazista que fez durante a juventude, a quatro dias do início do espetáculo.


"Decidi renunciar ao meu papel no Festival de Bayreuth. Não tinha consciência do alcance e da irritação que estes símbolos podem causar, especialmente em Bayreuth", declarou o barítono, de 38 anos, em sua página na Internet. "Fiz estas tatuagens quando era jovem. Foi um grande erro na minha vida e não pretendo repeti-lo jamais", destacou Nikitin, primeiro russo a obter o papel principal no Festival de Bayreuth, dedicado ao compositor Richard Wagner.

A polêmica ganhou força na noite de sexta-feira (21), quando o programa cultural do canal estatal alemão ZDF exibiu imagens da cruz suástica de Nikitin tatuada no peito.

Na juventude, Evgueni Nikitin foi baterista e guitarrista de um grupo de rock heavy metal, quando fez tatuagens por todo o corpo, revelou a ZDF.



Evgeny Nikitin

terça-feira, 3 de julho de 2012

Projeto Jornal na Escola

Participe da criação do Jornal do Predi.

Até 6ª feira 06/07/12 - Envio de sugestões para o nome do Jornal e dos trabalhos dos grupos.

Fique atento as datas.


sábado, 30 de junho de 2012

Fernando Lugo é cassado e deixa Presidência do Paraguai

Acusado de 'mau desempenho de suas funções', ele sai imediatamente, dando lugar ao vice, Federico Franco, que deve ficar até as eleições, em abril de 2013

O vice Federico Franco com o presidente Fernando Lugo
 Senado do Paraguai aprovou nesta sexta-feira o impeachment do presidente Fernando Lugo, por 39 votos favoráveis, contra 4 (e duas abstenções). Considerado culpado por deputados e senadores, o chefe de estado foi automaticamente afastado do cargo - ele é o primeiro presidente a ser destituído na história do país. Quem assume em seu lugar é o vice-presidente, Federico Franco, que deve permanecer no posto até a realização de eleições gerais previstas para abril de 2013. Franco foi convocado de imediato para prestar juramento diante do Congresso Nacional como novo presidente do Paraguai. Líder do Partido Liberal, ele é membro da Aliança Patriótica para a Mudança (APC), coalizão que venceu as eleições presidenciais de 2008.


Cinco acusações contra Lugo

A comissão de acusação apresentou documento com cinco argumentos contra o presidente:

1. Massacre de Curuguaty
2. Protesto de grupos socialistas na sede das Forças Armadas, com a aprovação de Lugo - considerado um desrespeito à ordem nacional
3. Assinatura arbitrária de um controverso protocolo, o que foi visto pelos opositores como um atentado à soberania da República
4. Incapacidade do presidente em conter a insegurança que assola o país
5. Instabilidade causada no campo, especialmente em Ñacunday, devido às invasões de terras - que teriam sido facilitadas por Lugo

Em seu discurso oficial após a decisão, Fernando Lugo acusou o Legislativo de "ferir profundamente" a democracia, que, segundo ele, foi "traída covarde e traiçoeiramente" pelo Senado. O ex-presidente afirmou ainda que a Casa transgrediu todos os direitos de defesa e reiterou que sempre atuou de acordo com a lei. "Hoje, não é Fernando Lugo que recebe um golpe, é a história paraguaia e sua democracia", declarou, afirmando também estar disposto a responder por suas ações como ex-mandatário.

Aprovado a toque de caixa, o processo de impeachment de Lugo durou pouco mais de 24 horas: da manhã de quinta-feira, quando a Câmara aprovou o pedido de julgamento político por 76 votos contra 1 (da deputada do partido de esquerda Frente Guazú), até o fim da tarde desta sexta, quando o Senado - a quem cabia a decisão final - decidiu cassar o chefe de estado. Lugo é acusado de "mau desempenho de suas funções" de presidente, após a morte de 17 pessoas, entre policiais e camponeses, em confronto armado durante uma reintegração de posses há uma semana.

Defesa e acusação - O presidente se ausentou durante todo o processo e enviou seus representantes, que argumentaram que as acusações contra o presidente careciam de provas concretas e criticaram a "subjetividade" dos congressistas. Enquanto a sessão ocorria no Senado, Lugo participou de uma reunião ministerial com representantes de Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai e Venezuela, além do secretário-geral da Unasul, Alí Rodríguez Araque, no Palácio Presidência.

O argumento da acusação foi o de que Lugo, além de mau desempenho como presidente, tem vínculos com grupos guerrilheiros e está estimulando um conflito social no país (leia mais no quadro ao lado). Os senadores deram menos de 24 horas para Lugo preparar sua defesa, e o presidente teve duas horas desta sexta para apresentar seus argumentos diante do plenário, marcadamente oposicionista. A rapidez com que o caso foi analisado levantou uma série de discussões, e o próprio governo brasileiro chegou a considerar um "golpe de estado", o que motivou uma mobilização da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

Jorge Adorno/Reuters

Federico Franco (à esq.), ao lado de Lugo
Dentro da lei - Por mais que impressione a rapidez com que todo o processo foi julgado, os parlamentares tiveram o cuidado de trabalhar dentro da lei. O "impeachment relâmpago" é legal, afirma o especialista em política latino-americana e professor de Relações Internacionais da ESPM, Mario Gaspar Sacchi. O artigo 225 da Constituição nacional determina que um chefe de estado pode sofrer um processo de impeachment em caso de "mau desempenho de suas funções, delitos cometidos no exercício de seus cargos e crimes comuns".

Sacchi explica que cabe à Câmara de Deputados averiguar se há condições formais para a abertura do processo, que então deve ser julgado pelo Senado, que se converte em uma espécie de tribunal. "É um processo rudimentar, da época colonial, e você precisa lembrar que o Paraguai é um país que viveu uma série de ditaduras, então é muito fácil tirar alguém do poder", diz o especialista. Sacchi ressalva que o tempo exíguo dado a Lugo para arquitetar sua defesa lança uma sombra sobre o processo. "Não é o que seria esperado em uma democracia."

Biografia - Fernando Lugo é um ex-bispo da religião católica, eleito há quatro anos no Paraguai com promessas de defender as necessidades dos pobres. A reforma agrária era uma das prioridades de seu governo, mas o chefe de estado teve dificuldades para aproximar posições entre as organizações camponesas e os proprietários, na medida em que buscava colocar ordem no organismo encarregado pela distribuição de terras. No início deste ano, o presidente veio ao Brasil para tratar um linfoma, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Internado para a realização de exames de controle, seguiu o tratamento de um câncer detectado em agosto de 2010.

http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/fernando-lugo-e-cassado-e-deixa-presidencia-do-paraguai

sábado, 23 de junho de 2012

Rio+20 aprova texto sem definir objetivos de sustentabilidade


Conferência adotou documento que prevê definição futura de metas.
Texto cita erradicação da pobreza como maior desafio do mundo atual.


Os 188 países participantes da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável adotaram oficialmente o documento intitulado "O futuro que queremos", nesta sexta-feira (22).
O propósito da Rio+20 era formular um plano para que a humanidade se desenvolvesse de modo a garantir vida digna a todas as pessoas, administrando os recursos naturais para que as gerações futuras não fossem prejudicadas.
Uma das expectativas era de que a reunião conseguisse determinar metas de desenvolvimento sustentável em diferentes áreas, mas isso não foi atingido. O documento apenas cita que eles devem ser criados para adoção a partir de 2015.
O texto final da Rio+20, intitulado "O futuro que queremos", foi publicado no site oficial da conferência (leia o documento, traduzido para os idiomas oficiais da ONU: inglês, espanhol, árabe, russo, francês e chinês). A adoção aconteceu às 19h15, quando o embaixador brasileiro Luiz Alberto Figueiredo consultou a plenária dos líderes e não ouviu objeção. "Fica assim decidido", concluiu, batendo um martelo.
Também na plenária de encerramento, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que "o documento final que foi adotado por consenso fornece formação firme para um bem-estar social, econômico e ambiental. Agora é nossa responsabilidade desenvolver isso". "Não podemos mais hipotecar o nosso futuro para as necessidades de curto prazo", alertou.
"O documento torna-se, hoje, um marco no conjunto dos resultados das conferências das Nações Unidas ligadas ao desenvolvimento sustentável", discursou a presidente Dilma Rousseff aos delegados. "Um passo histórico foi dado em direção a um mundo mais justo, equânimo e próspero"
A presidente ainda afirmou que o país se orgulha de ter organizado e presidido "a mais participativa e democrática conferência, na qual tiveram espaço diversas visões e propostas, buscando sempre manter um equilibrio respeitoso".

Trecho criticado é mantido
Em relação ao rascunho aprovado pelos diplomatas no início da semana, o documento adotado em definitivo pelos líderes, nesta sexta-feira (22), teve apenas mudanças de formatação, não de conteúdo. Foi mantido, inclusive, o trecho "com total participação da sociedade civil", que ONGs haviam pedido para ser retirado porque consideram que foram excluídas do processo de construção do documento.
O documento prevê, entre outras medidas, a criação de um fórum político de alto nível para o desenvolvimento sustentável dentro das Nações Unidas, além de reafirmar um dos Princípios do Rio, criado em 1992, sobre as “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”.
Este princípio significa que os países ricos devem investir mais no desenvolvimento sustentável por terem degradado mais o meio ambiente durante séculos.
Outra medida aprovada é o fortalecimento do Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (Pnuma) e o estabelecimento de um mecanismo jurídico dentro da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Unclos, na sigla em inglês) que estabelece regras para conservação e uso sustentável dos oceanos.
Pobreza
O texto estabelece a erradicação da pobreza como o maior desafio global do planeta e recomenda que “o Sistema da ONU, em cooperação com doadores relevantes e organizações internacionais”, facilite a transferência de tecnologia para os países em desenvolvimento.
Esse sistema atuaria para facilitar o encontro entre países interessados e potenciais parceiros, ceder ferramentas para a aplicação de políticas de desenvolvimento sustentável, fornecer bons exemplos de políticas nessas áreas e informar sobre metodologias para avaliar essas políticas. 
Por atender restrições de países com visões muito diferentes, o texto da Rio+20 tem sido criticado por avançar pouco: não especifica quais são os objetivos de desenvolvimento sustentável que o mundo deve perseguir, nem quanto deve ser investido para alcançá-los, e muito menos quem coloca a mão no bolso para financiar ações de sustentabilidade. O que o documento propõe são planos para que esses objetivos sejam definidos num futuro próximo (veja abaixo um quadro com o que foi negociado).

Críticas
O texto da Rio+20 recebeu críticas das próprias delegações que participaram da conferência e de organizações não-governamentais. Os negociadores da União Europeia classificaram a redação de “pouco ambiciosa” e disseram que faltam “ações concretas” de implementação das ações voltadas ao desenvolvimento sustentável.
Por sua vez, antes mesmo da ratificação pelos chefes de Estado, integrantes da sociedade civil assinaram uma carta endereçada aos governantes intitulada “A Rio+20 que não queremos”, na qual classificam o texto da conferência de “fraco”.
“O documento intitulado 'O futuro que queremos' é fraco e está muito aquém do espírito e dos avanços conquistados nestes últimos 20 anos, desde a Rio 92. Está muito aquém, ainda, da importância e da urgência dos temas abordados, pois simplesmente lançar uma frágil e genérica agenda de futuras negociações não assegura resultados concretos”, afirma o documento, assinado por mais de mil ambientalistas e representantes de organizações não-governamentais.
A carta diz ainda que a Rio+20 passará para a história como uma conferência das Nações Unidas que ofereceu à sociedade mundial um texto marcado por “graves omissões que comprometem a preservação e a capacidade de recuperação socioambiental do planeta, bem como a garantia, às atuais e futuras gerações, de direitos humanos adquiridos.”
O documento termina dizendo que a sociedade civil não ratifica o texto da Rio+20. “Por tudo isso, registramos nossa profunda decepção com os chefes de Estado, pois foi sob suas ordens e orientações que trabalharam os negociadores, e esclarecemos que a sociedade civil não compactua nem subscreve esse documento”, conclui a carta. 

O que vinha sendo negociado                             -                               Como ficou o texto final

CBDR – sigla em inglês para Responsabilidades Comuns Mas Diferenciadas, princípio que norteia as negociações de desenvolvimento sustentável. O princípio oficializa que se espera dos países ricos maior empenho financeiro para implementação de ações, pelo fato de virem degradando o ambiente há mais tempo e de forma mais intensa.
Havia rumores de que os países ricos queriam tirar esse princípio do texto, mas ele permaneceu.
Fortalecimento do Pnuma – cogitava-se transformar o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em uma instituição com status de agência da ONU, como é a FAO (de Alimentação).
O texto prevê fortalecimento do Pnuma, mas não especifica exatamente como. O assunto deve ser resolvido na Assembleia Geral da ONU em setembro.

Oceanos – Era uma das áreas em que se esperava mais avanço nas negociações, porque as águas internacionais carecem de regulamentação entre os países.
A negociação avançou e o texto adota um novo instrumento internacional sob a Convenção da ONU sobre os Direitos do Mar (Unclos), para uso sustentável da biodiversidade e conservação em alto mar.

Meios de Implementação – questão-chave para os países com menos recursos, significa na prática o dinheiro para ações de desenvolvimento sustentável. Os países pobres propuseram a criação de um fundo de US$ 30 bilhões/ano a ser financiado pelos ricos.
Avançou pouco. O fundo de US$ 30 bilhões não virou realidade. “A crise influenciou a Rio+20”, admitiu o embaixador brasileiro André Corrêa do Lago.

ODS – Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, metas a serem perseguidas pelos países para avançar ambiental, política e socialmente, eram uma das grandes cartadas para a Rio+20.

Os objetivos não foram definidos. Inicia-se apenas um processo para rascunhar quais devem ser as metas até 2013. Elas então devem ser definidas para entrarem em vigor em 2015, quando terminam os Objetivos do Milênio. 

domingo, 17 de junho de 2012

A população brasileira não sabe o que é a Rio+20


Para quem acompanha as notícias sobre a Rio+20, fica a impressão de que toda a sociedade brasileira está discutindo os principais temas da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que começa nesta quarta 13.

É, na verdade, uma doce e triste ilusão de poucos diante da maioria da população que segue em seu cotidiano sem ter a mínima ideia do que é essa tal de Rio+ … o que mesmo?

Essa foi a constatação de um estudo divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente apenas uma semana antes do início do encontro.  Segundo a pesquisa intitulada “O que o brasileiro pensa do meio ambiente e do consumo sustentável”, 78% dos brasileiros desconhecem a conferência.

Da enquete participaram 2 mil pessoas. O meio ambiente ocupou a 6ª colocação dos problemas nacionais, citado por 13% dos entrevistados.  A saúde ocupa o primeiro lugar (81%); em segundo, a violência (65%) e, na sequência, o desemprego (34%).

http://www.cartacapital.com.br/carta-verde/a-populacao-brasileira-nao-sabe-o-que-e-a-rio20/?autor=599

domingo, 3 de junho de 2012

Obstáculos à Verdade


Obstáculos à Verdade

Superadas as polêmicas ideológicas, a Comissão criada para investigar os crimes da ditadura não conseguiu sequer nomear seus 14 assessores

Adriana Nicacio
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A CONTA-GOTAS
Apenas cinco pessoas foram nomeadas para os 14 cargos criados para a comissão
Instalada com toda pompa no dia 16 de maio, a Comissão da Verdade conseguiu superar entraves políticos e até mesmo a reação de militares da caserna, mas tropeça em problemas de ordem prática. Primeiramente não havia um espaço físico definido para abrigar os integrantes do colegiado. Foi necessário esvaziar o segundo andar do Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, para acomodar de forma definitiva a equipe do novo órgão. O local estava ocupado por secretarias do Ministério da Justiça. Feito o despejo, os sete membros nomeados pela presidenta Dilma Rousseff ainda não conseguiram sequer contratar seus assessores. Em 15 dias, dos 14 cargos a serem ocupados, apenas cinco foram efetivados. Entre os auxiliares que vão receber R$ 6,8 mil por mês estão Nadine Borges, do Departamento de Políticas dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Secretaria de Direitos Humanos, a historiadora Heloísa Starling, do conselho curador da Empresa Brasil de Comunicação, o desembargador Manoel Volkmer de Castilho, o procurador Wagner Gonçalves e o advogado José Antonini. 

Até a quinta-feira 31 de maio, continuavam vagos os cargos de secretário-executivo da Comissão da Verdade, cinco cargos de assessores especiais e três de assessores técnicos. O colegiado tem até 25 de julho para elaborar o regimento interno, mas também ainda não conseguiu definir os responsáveis pelas subcomissões nem criar os grupos de trabalho. Ao contrário da proposta inicial, que previa reuniões a cada 15 dias, os encontros têm sido semanais para decidir como se lançará luz principalmente sobre o destino dos desaparecidos nos anos de chumbo. “É muito cansativo. Sou obrigado a acordar às 4 horas da manhã na segunda-feira, viajar a Brasília e só volto para casa à 1h da madrugada”, desabafou com amigos o advogado e escritor pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho. 

Enquanto não superam as questões administrativas para, enfim, se debruçar sobre os mais de 70 mil arquivos que receberam da Comissão da Anistia e iniciar as investigações, os sete membros titulares estudam os trabalhos das 440 comissões da verdade instaladas pelo mundo, em especial a da África do Sul, que apurou os crimes da época do apartheid. O livro “Performing South Africa’s Truth Commission”, de Catherine M. Cole, passou a ser leitura obrigatória, além de textos sobre as investigações de organismos similares no Cone Sul. O coordenador da comissão, ministro Gilson Dipp, explica que a prioridade é iniciar os trabalhos a partir dos dados repassados pelas Comissões de Anistia e de Mortos e Desaparecidos. Mas nem isso é consenso. Apesar de a legislação determinar que sejam analisados os crimes contra os direitos humanos entre 1946 e 1988, com atenção especial entre 1964 e 1985, os membros ainda não chegaram a um acordo. A maioria entende que o alvo devem ser a tortura e as violações cometidas nos porões da ditadura. Mas ainda há quem insista na investigação das ações de grupos armados da esquerda.
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Disponível em:

sábado, 26 de maio de 2012

Destaque de Salinas



Grupo de Declamadoras "Vozes de Salinas"

O Grupo de Declamadoras "Vozes de Salinas" foi criado em outubro de 2005 através da então Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia.

A primeira formação do grupo era de nove crianças e jovens entre dez a vinte anos. Com a nova seleção de componentes em dezembro de 2006 e de outros  que foram selecionados e inseridos no mesmo, ele hoje tem um total de dezenove crianças e jovens entre doze e dezoito anos.

A apresentação inicia-se com uma música condizente com a poesia, a qual se torna pano de fundo. As declamadoras apresentam-se descalças e algumas interpretam músicas durante o espetáculo acompanhadas de instrumentos musicais.

O grupo já fez apresentações em Montes Claros na INTER_TV Grande Minas, No Palácio das Artes -BH nas Terças Poéticas, em Feira de Santana - BA e em Araçuaí MG. 

Dezembro/2011
Disponível em: http://vozesdesalinas.blogspot.com.br/

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Projeto: Vai Dá Samba

Ritmo é o mais famoso do Brasil

Heidi Strecker*
Reprodução
Samba, quadro de Portinari

 "Quem não gosta de samba bom sujeito não é/ é ruim da cabeça ou doente do pé."

Com certeza, o compositor Dorival Caymmi expressou uma grande verdade quando compôs essa música, que se chama "Samba da minha terra".

O samba faz parte da vida de muitos brasileiros, tornando-a mais divertida e alegre. Mas como surgiu esse gênero musical tão característico da nossa terra?

O samba de roda é um ritmo da tradição afro-brasileira e está associado a uma dança parecida com a capoeira. Formando um círculo, algumas pessoas tocam pandeiro, viola, atabaque, berimbau e chocalho, além de cantarem e baterem palmas. No interior dessa roda formada pelos músicos, outras pessoas gingam, rodopiam, fazem evoluções.

Contam que o samba de roda nasceu nos terreiros de candomblé. E, tendo chegado da África, imagine em que local do Brasil o samba acabou se firmando?

Negro no coração

Há uma música do poeta Vinícius de Moraes em que ele diz: "O samba nasceu lá na Bahia, se hoje ele é branco na poesia, ele é negro demais no coração." Isso não é só poesia, mas também história. O samba de roda nasceu no Recôncavo Baiano, que é uma região do estado da Bahia formada por mais de trinta municípios, contornando a Baía de Todos os Santos.

Para participar do samba de roda, você tem que ter um jogo de corpo e um jogo de cena. Ele começa devagarzinho, com movimentos suaves dos braços e das pernas e vai se tornando mais forte, mais cadenciado, até se transformar num grande requebrado.

A partir de 2005, o samba de roda tornou-se um Patrimônio da Humanidade, um título concedido pela Unesco (órgão da Organização das Nações Unidas) para as mais autênticas manifestações culturais.

O samba no Rio de Janeiro

O samba de roda foi uma das bases para o samba carioca. Mas essa é uma história comprida. Antigamente, qualquer manifestação rítmica dos negros escravos era chamada de batuque. Com o tempo, este foi se transformando em outras formas musicais, como o lundu e o maxixe, até se tornar o que conhecemos hoje como samba.

Esse processo, contudo, não aconteceu de forma pacífica. Houve uma época em que era proibido sambar! Os locais de samba, no século 19, eram muito mal vistos, considerados perigosos, sujos, verdadeiros "locais de perdição". Na verdade, o preconceito contra os negros estava por trás desse modo de ver as coisas.

A abolição da escravidão só aconteceu em 1888. A partir daí, o samba começou a ser visto com outros olhos e muitos brancos passaram a aderir a sua cadência irresistível, nas primeiras décadas do século 20. Merece destaque, nesse caso, o compositor branco Noel Rosa, que fez uma verdadeira crônica do seu tempo através de sambas bem-humorados, que refletem o temperamento alegre do brasileiro.

O samba pioneiro

"Pelo telefone", composição de Donga datada de 1916, é considerado o primeiro samba brasileiro, por substituir o maxixe. Nessa época, já se podiam gravar as músicas em discos. Na mesma ocasião, surgiram muitos compositores de grande talento, como Pixinguinha, João da Baiana, Sinhô e Heitor dos Prazeres. O samba foi tomando uma expressão urbana e moderna.

Começou a ser tocado nas rádios, se espalhou pelos morros cariocas e nos bairros da zona sul, conquistando um público de classe média também. Mais tarde, em meados do século 20, Dorival Caymmi e João Gilberto deram uma nuance sofisticada para o samba, misturando-o com outras influências musicais.

Hoje o samba tem mil outras formas como a gafieira, o pagode, o samba enredo (que é o samba do carnaval), o samba de breque, o samba-canção, o samba-rock, o partido alto e muito mais.

Disponível em : http://educacao.uol.com.br/cultura-brasileira/samba---historia-ritmo-e-o-mais-famoso-do-brasil.jhtm

As Festas Juninas

Evento mais festejado depois do carnaval


Reprodução
Bandeira de São João Batista

 Depois do Carnaval, as Festas Juninas são um dos evento mais consagrados no território nacional. As ruas, praças e escolas de muitas cidades são decoradas com bandeirinhas coloridas e, em barracas montadas ao ar livre, são servidas comidas e bebidas típicas.

Entre os quitutes, estão a paçoca, o pé-de-moleque, rapadura, pipoca, o milho verde, o amendoim torrado, batata doce, canjica, o doce de abóbora, o arroz doce e, para os adultos, quentão e vinho quente. Também são comuns brincadeiras como pescaria, argolas e tiro ao alvo e danças tradicionais, como a quadrilha.

Quando ocorrem as Festas Juninas?

O ciclo das festas juninas começa meados do mês de junho, quando se festejam quatro santos muito conhecidos no Brasil: Santo Antônio, no dia 13; São João, 24; e São Pedro e São Paulo, no dia 29 de junho.

História das Festas Juninas

Nos países europeus católicos, a festa era inicialmente chamada de "joanina" (em homenagem a São João). Trazida pelos portugueses para o Brasil, virou festa "junina" e foi incorporada aos costumes locais, com a introdução de alimentos, como o aipim, o milho, o jenipapo, e também os cantos e danças, como o forró, o boi-bumbá e o tambor-de-crioulo.

Mas não foi somente a influência portuguesa que caracterizou as comemorações. A quadrilha, por exemplo, foi uma adaptação de uma dança da nobreza européia (quadrille), muito presente nos salões franceses do século 18.

Os jesuítas portugueses, a princípio, comemoravam o dia de São João. As primeiras referências às festas de São João no Brasil datam de 1603. As festas de Santo Antônio e de São Pedro só vieram mais tarde, mas como aconteciam no mesmo mês, foram incluídas nas chamadas festas juninas.

A fogueira e os rojões

Uma lenda católica conta que Isabel, prima de Maria, mãe de Jesus, na noite do nascimento de João Batista, acendeu uma fogueira para avisar a novidade à Maria. Por isso a fogueira é um elemento fundamental da festa e costuma ser acesa às 18h, hora da Ave Maria. Na festa de Santo Antonio, a fogueira tem formato quadrangular; na de São Pedro, triangular e na de São João possui formato arredondado na base, formando uma pirâmide.

Os fogos de artifício eram utilizados na celebração para "despertar" São João e chamá-lo para a comemoração de seu aniversário. O barulho de bombas e rojões podia espantar os maus espíritos. O costume de soltar balões surgiu da idéia de que eles levariam os pedidos dos devotos aos céus e a São João. Essa prática foi proibida devido ao alto risco de os balões provocarem incêndios.

A cerimônia de levantamento do mastro de São João é chamada de "Puxada do mastro". Além da bandeira de São João, o mastro pode ter as de Santo Antonio e São Pedro.

Disponível em : http://educacao.uol.com.br/cultura-brasileira/festa-junina---origem-evento-mais-festejado-depois-do-carnaval.jhtm