domingo, 29 de junho de 2014

Primeira Guerra Mundial foi berço de um novo mundo

Há exatos 100 anos o mundo vivia um dos mais importantes e trágicos capítulos de sua história. O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, da Áustria, por um nacionalista sérvio dava início a um conflito diplomático que provocaria a primeira grande guerra de proporções globais da humanidade.
 
A Grande Guerra (como foi chamada até que a Segunda fosse declarada, em 1939) definiu fronteiras, políticas econômicas e ideologias desde o início no fatídico 28 de junho de 1914 e que perdurou até novembro de 1918. Os efeitos, diretos ou indiretos, moldaram a política internacional até a eclosão do conflito seguinte e juntos definiram o tom do século 20.
 
Como conflito, os números são impressionantes, principalmente por tratar-se de um época em que vários avanços tecnológicos estavam nascendo e a cavalaria prussiana ainda era um dos mais temidos aparatos bélicos. 
 Ofensiva
Ofensiva - Cratera aberta por um bombardeio alemão durante a Primeira Guerra Mundial
 
Entrincheirados, sujos, doentes e mal-equipados, 10 milhões de soldados morreram nos quatro anos de confronto que colocou frente a frente os antigos impérios contra as nações democráticas e modernas que se ergueram e se consolidaram ao longo do século 19, após a Era das Revoluções, como define o historiador britânico Eric Hobsbawm.
 
Estima-se que pelo menos 7 milhões de pessoas tenham sido incapacitadas permanentemente e outros 15 milhões tenham se ferido gravemente.
Trincheira francesa
     DEFENSIVA - Trincheira francesa para segurar invasão dos inimigos. Várias teconologias
                                                              foram desenvolvidas a partir do conflito
 
Mais do que a guerra em si, com suas importantes batalhas e duras perdas para ambos os lados (Rússia, depois EUA, França e Inglaterra, de um lado, e Império Austro-Húngaro, Império Otomano e Alemanha, de outro), foram as consequências do pós-guerra que deixaram feridas que até hoje sangram no Velho Mundo. 
 
A mais aberta e dolorida ainda pode ser vista em algumas cidadelas arrasadas pelos intensos bombardeios que ocorreram no continente com a Segunda Guerra Mundial, que eclodiu em 1939 como consequência direta das decisões, imposições e alterações de fronteira impostas pelo Tratado de Versalhes – aAliados
ALIADOS - Infantaria francesa e artilharia britânica se posicionam para confrontos 
 
Nova potência
 
Outras consequências que ajudaram a redesenhar o mapa das potências no mundo foram de ordem econô[/LEAD][LEAD]mica e catapultaram os Estados Unidos à condição de potência, não somente do ponto de vista bélico, mas também em produção e em “caixa”.
 
Com os esforços europeus das grandes nações voltados para o conflito, coube aos EUA assumir e liderar o papel de principal produtor industrial do mundo, o que ajudou a gerar uma crise de excesso de bens, culminando no Crack da Bolsa de 1929.
 
Modelos autoritários eclodem
 
Após a Primeira Guerra, viu-se o crescimento de modelos autoritários para ambos os lados, com fascistas, nazistas e comunistas. Essas visões mais radicais ajudariam no processo de eclosão da Segunda Guerra e, posteriormente, na Guerra Fria, que durou até meados dos anos 80, no século passado. “A causa e o objetivo centrais parecem ser sempre os mesmos: garantir a hegemonia mercadológica em áreas de influência na corrida imperialista. A observação detalhada da eclosão dos dois conflitos mundiais mostra alarmantes semelhanças com os acontecimentos recentes. 
Inicialmente, vemos o esvaziamento de conteúdo dos regimes que se supõem ‘democráticos’ e da própria noção de democracia, soberania e liberdade. O descrédito na democracia foi alavanca das duas guerras mundiais”, avalia Ramon Ramalho, cientista social pela UFMG, mestre em pesquisa em ciências sociais e doutorando em sociologia pela Universidad de Buenos Aires.
 
Brasil tem participação tímida, mas ajuda a fundar o embrião da ONU
 
É possível detectar a participação do Brasil na Guerra, mas de forma um tanto tímida. Inicialmente neutro, o país, governado então pelo mineiro Venceslau Brás, eleito em 1º de março, só tomou uma postura mais efetiva ao ter o paquete Paraná torpedeado por um submarino alemão sem maiores explicações.
 
O país, então, enviou tropas ao front ocidental, mas atuou mesmo como exportador de matérias-primas. Contudo, no pós-guerra o país teve ações mais contundentes, sobretudo no que diz respeito à fundação da Liga das Nações, instituição diplomática internacional que serviu como embrião para o estabelecimento da Organização das Nações Unidas (ONU).
 
“A participação brasileira na Primeira Guerra Mundial, no aspecto militar, se resumiu ao envio de tropas ao front ocidental e ao manejo de sete embarcações brasileiras no Atlântico. No aspecto diplomático, vale destacar a participação da comitiva brasileira na Conferência de Paz de Paris, em 1919, chefiada por Epitácio Pessoa”, afirma Enrique Luz, bacharel em História e Letras, mestre em História pela UFMG e doutorando do Centro de Pesquisas sobre o Antissemitismo da Universidade Técnica de Berlim.
 
Dessa forma, o Brasil tornou-se um dos membros-fundadores da Liga das Nações. “O primeiro esforço diplomático em escala mundial dedicado à prevenção de conflitos internacionais”, explica Luz.
 
A longa duração dos conflitos possibilitou alguma prosperidade aos produtores de matérias-primas, como a borracha, que ainda vivia seus bons anos devido ao aumento da demanda mundial.
 
Contudo, nessa época, o país passa por profundas transformações econômicas. A produção do café, base de sustentação, começa a entrar em declínio, forçando o Brasil a se modernizar, mesmo dentro da chamada estrutura da República Velha.
 
Tensão crescente no cenário atual e com novos protagonistas
 
Se vivemos dias de relativa paz global desde o início dos anos 90 (passados os duros anos de Guerra Fria, com confrontos pesados no Oriente Médio, Vietnã e Coreia, que quase levaram o mundo a um conflito generalizado novamente), este ano desenha-se com um cenário político instável e beligerante.
 
Desta vez, os confrontos não estão mais nos rincões do Oriente Médio, como no Iraque, ou nos confins da Ásia, no Afeganistão. A Europa é novamente cenário, em sua porção oriental, de tensões que trazem novamente o temor de confrontos em escalas como as vistas na primeira metade do século 20.
 
A Ucrânia foi palco de revoltas e problemas diplomáticos com Moscou. Esse confronto acendeu a luz vermelha na ONU e o clima ficou bastante tenso.
 
“Os 14 anos do século 21 vêm marcando uma média de quase uma invasão militar por ano. Já somamos 12 conflitos bélicos diretos. A escala de tensão é crescente. Porém, diferentemente das épocas de guerras mundiais anteriores, as economias se encontram muito mais vinculadas e interdependentes”, analisa o cientista social Ramon Ramalho.
 
O medo de uma guerra nuclear é um fator que contribui para conter a gana bélica dos mais beligerantes. Além disso, avalia Ramalho, os diversos dispositivos diplomáticos e econômicos podem ser considerados eficientes para conter os ânimos mais exaltados.
 
É neste ponto que o Brasil procura se destacar, de olho em um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. “A postura brasileira frente aos conflitos atuais é pela resolução pacífica”, afirma Enrique Luz. Para ele, a política externa brasileira ainda não acompanha o novo patamar que o país alcançou internacionalmente. 
 
Economia de BH sente efeitos da crise mundial
 
Recém-fundada no último triênio do século 19 para ser a nova e moderna capital das Minas Gerais, Belo Horizonte sentiu fortemente os efeitos da Grande Guerra.
 
Com cerca de 40 mil habitantes, a cidade sofreu o peso das crises instaladas com a decadência do café e os problemas econômicos que assolavam o país desde 1912.
 
Uma das consequências foi a interrupção da construção da Catedral da Boa Viagem, que foi retomada apenas em 1923.
Além disso, a ampliação do Colégio Arnaldo, uma das mais tradicionais escolas da cidade, teve que ser interrompida, pois os 50 mil marcos destinados às obras foram comprometidos.
 
Com o desenvolvimento econômico interrompido, o prefeito da época, Affonso Vaz de Melo, expôs sua visão sobre o cenário ao fim do conflito, já em 1918, em um relatório apresentado aos membros do Conselho Deliberativo da Capital.
 
“Apesar da situação de dificuldades que a humanidade atravessa, repercutindo ainda que não acentuadamente em nosso país, sentimos os seus efeitos no encarecimento da vida antes pelo isolamento em que nos achamos do Velho Mundo, do que pela nossa condição de beligerantes na conflagração mundial”, disse.
 
Batalhas sangrentas
 
A batalha de Verdun ficou como o símbolo do horror da Primeira Guerra Mundial (1914-18), mas são lembrados outros cenários bélicos do conflito que mobilizou tropas de todos os continentes e deixou milhões de mortos na Europa: 
- Primeira Batalha do Marne (a leste de Paris), de 5 a 12 de setembro de 1914
- Batalha dos Dardanelos (1915), nome do Estreito que dá acesso a Istambul e ao Mar Negro, fechado pela Turquia no início da guerra
- Batalha de Verdun (1916), considerada pelos franceses o símbolo da Grande Guerra
- Batalha de Somme (norte da França), a mais letal (1,2 milhão de vítimas e mais de 400.000 mortos 
- Chemin des Dames (Caminho das Damas)
- Segunda batalha do Marne (leste de Paris)

 cordo assinado ao fim da Grande Guerra que determinou sanções duríssimas aos alemães, considerados os grandes vilões e humilhados pelos “vencedores”.

Disponível em: http://www.hojeemdia.com.br/noticias/politica/primeira-guerra-mundial-foi-berco-de-um-novo-mundo-1.250973

domingo, 30 de março de 2014

A marcha rumo ao golpe

Como foi a operação militar que partiu de Minas para implantar a ditadura no país


Publicação: 30/03/2014 06:00 Atualização: 30/03/2014 08:41

Dias depois do golpe, Olímpio Mourão Filho passa em revista a tropa (Arquivo O Cruzeiro/EM. Brasil.)
Dias depois do golpe, Olímpio Mourão Filho passa em revista a tropa



















No final da madrugada de 31 de março de 1964, o general Olímpio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, em Juiz de Fora, transformou em ação as insatisfações que cresciam nos quartéis com o então presidente João Goulart. Apoiado por políticos e empresários influentes de Minas Gerais, que criticavam, principalmente, supostas ligações do presidente com regimes comunistas, Mourão Filho mandou às ruas, em direção ao estado da Guanabara, 6 mil homens com a missão de destituir Jango do poder. "Se nós não a tivéssemos feito, ela não teria sido jamais começada", avaliou o general mineiro em seu livro de memórias 14 anos depois. Nesta reportagem da série sobre os 50 anos do golpe, o Estado de Minas mostra como foi a operação que partiu do estado para dar início ao regime militar e à ditadura que assombrou o país por 21 anos.

Três dias antes de os militares mineiros partirem em direção ao Rio, em 28 de março, os generais Mourão Filho e Odílio Denys, ex-ministro da Guerra, se reuniram com o governador de Minas, José de Magalhães Pinto, em Juiz de Fora, para discutir ações práticas que poderiam levar à derrubada do presidente João Goulart. Inicialmente, o grupo planejou que as tropas se movimentariam a partir de 4 de abril, mas Mourão Filho não esperaria até lá para agir.
Na véspera do golpe militar houve nova reunião organizada por Magalhães Pinto com o general Carlos Luiz Guedes, da 4ª Região Militar de Belo Horizonte, e José Geraldo de Oliveira, comandante da Polícia Militar de Minas. No encontro, desta vez na capital mineira, ficou decidido que seriam mobilizados os batalhões da PM, da Polícia Civil e da Guarda Civil para o movimento contrário ao governo federal. Foi anunciado um manifesto defendendo uma ação para retirar Jango do poder. No entanto, as articulações entre BH e Juiz de Fora não saíram como o planejado e, no dia 31, Mourão Filho anunciou seu próprio manifesto e ordenou o início da marcha.
"Faz mais de dois anos que os inimigos da ordem e da democracia, escudados na impunidade que lhes assegura o Sr. Chefe do Poder Executivo, vêm desrespeitando as instituições, enxovalhando as Forças Armadas. Na certeza de que ele está a executar uma das etapas do aniquilamento das liberdades cívicas, as Forças Armadas não podem se silenciar diante de tal crime. Minhas tropas, numa hora dessas, marcham para o estado da Guanabara em busca de vitória", disse Mourão.
Poucas horas depois, a Presidência da República divulgou nota lamentando a decisão do general mineiro e do governador Magalhães Pinto e prometeu uma resposta às movimentações de tropas no estado. "Diante dessa situação, o presidente recomendou ao ministro da Guerra, general Jair Dantas Ribeiro, que fossem tomadas imediatamente providências para debelar a rebelião, tendo sido deslocados para Minas unidades do 1º Exército. Lamentamos que uma aventura golpista tenha sido lançada em Minas, terra das melhores tradições cívicas do povo brasileiro."
A marcha Entre os cerca de 6 mil homens que deixaram Minas Gerais a partir da manhã do dia 31 de março em direção ao estado da Guanabara estava Manoel Soriano Neto. Com 22 anos e recém-saído da Academia Militar, ele seguiu junto com 350 militares do 12º Regimento de Infantaria para Juiz de Fora pouco depois do meio-dia para reforçar o Destacamento Tiradentes. A tropa de Mourão Filho já marchava em direção ao Rio de Janeiro pela BR-040, então chamada de BR-3.
"Havia a iminência de um combate real naquele dia. Partimos esperando um confronto com outras tropas do Exército, já que o Ministério da Guerra tinha determinado que o 1º Exército, a divisão do Rio de Janeiro, impedisse a passagem de nossa tropa", lembra Soriano, que se especializou em história militar. 
A tropa que partiu da capital se apresentou ao general Mourão Filho no início da noite e seguiu o caminho para o Rio de Janeiro. Aos poucos, as cidades próximas à fronteira entre Minas e Rio foram sendo ocupadas pelos soldados mineiros, mas em nenhum dos casos houve resistência ou confronto com moradores. Ao ultrapassar o município fluminense de Areal, as tropas do 1º Exército e os mineiros se encontraram.
"Foi um momento de apreensão terrível. Mas a ordem de nos impedir não foi cumprida. Caso contrário, acredito que seríamos aniquilados. Estávamos com o moral em alta, porém, muito das nossas forças estavam aquém em relação ao armamento do I Exército", avalia Soriano. Ao contrário de um embate entre os dois grupos, os mineiros receberam o apoio do 1º Exército e a marcha até a capital fluminense foi reforçada.
Durante o dia 1º os militares ocuparam várias cidades na Baixada Fluminense e o alto-comando do Exército acelerou as articulações para tomar o poder. Sem reação do governo ou dos grupos que o apoiavam, João Goulart deixou o Rio de Janeiro em direção a Brasília, e em seguida para Porto Alegre, onde Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul, tentava organizar uma resistência.
Em 2 de abril, as tropas mineiras marcharam pela Avenida Brasil, Região Central do Rio. "Poucas pessoas sabiam exatamente o que estava acontecendo. Não houve qualquer conflito com moradores ou com grupos de resistência. Fomos recepcionados pelo governador Carlos Lacerda, que liberou o Maracanã para usarmos como base e nos ofereceu suprimentos. Ficamos até o dia 6, como uma tropa de ocupação, para consolidar a revolução", explica Soriano.
O movimento foi saudado por importantes setores da sociedade brasileira desde o início e recebeu a adesão dos governadores do Rio, Carlos Lacerda, e de São Paulo, Adhemar de Barros. Como forma de impedir uma suposta ameaça de "esquerdização" do país, o golpe militar foi aplaudido por empresários, pela imprensa e pela Igreja Católica.
Ainda no dia 1º, Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu em caráter provisório o governo. No entanto, o poder de fato passou a ser exercido por uma junta de governo formada por três ministros militares – o general Arthur da Costa e Silva, o almirante Augusto Radamaker Grunewald e o brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo. No Nordeste, a movimentação do 4º Exército impediu qualquer ação de grupos camponeses e, com a deposição dos governadores Miguel Arraes, de Pernambuco, e Seixas Dória, de Sergipe, o golpe se consolidou rapidamente.
Mea-Culpa Décadas depois do golpe, alguns dos líderes mineiros que participaram da articulação inicial no estado avaliaram que a decisão de derrubar o governo de João Goulart como solução para o país não saiu como o planejado. Em 1989, o ex-comandante da PM Coronel José Geraldo de Oliveira criticou os desdobramentos do regime militar e afirmou que a proposta de mudar o país foi apenas uma justificativa para que um grupo se firmasse no poder.
"Foi um engano, um lamentável equívoco. Se eu soubesse que o movimento de 64 iria dar no que deu, não teria tomado parte dele. Durante dois anos preparei a Polícia Militar de Minas para uma revolução que vencesse a corrupção e a subversão. Hoje, 25 anos depois, sei que o que aconteceu foi um golpe. A corrupção tomou conta de Minas e do Brasil. Fomos meros serviçais dos magnatas. A cada dia eles se tornaram mais ricos e o povo ficou cada vez mais pobre", analisou José Geraldo na época.

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segunda-feira, 24 de março de 2014

Copa provoca alta de até três vezes nos preços dos hotéis de BH

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
Diárias na Copa estão até 238% mais caras
Se os hotéis de Belo Horizonte já oferecem preços médios mais altos do que em Tóquio, Santiago e Buenos Aires, imagina na Copa? Pois uma pesquisa feita pelo Hoje em Dia no site da Fifa encontrou preços até 328% mais caros durante o maior torneio de futebol do planeta, na comparação com uma diária em 12 de maio, exatamente um mês antes de a bola começar a rolar. 
Dos 44 estabelecimentos que fecharam acordo com a Match, operadora responsável pela hospitalidade, e listados no site, 11 estão reservados e seis aparecem como não disponíveis. Nos demais, chama a atenção a discrepância entre o desembolso em uma data normal e durante o Mundial.
A maior variação encontrada, de 328%, foi no Promenade Volpi, na Savassi. Um casal de hóspedes que pagaria R$ 218,50, em maio, por hospedagem em quarto duplo, terá que gastar R$ 739 se lá quiser pousar em dias de jogos. No Niagara, no Santo Agostinho, que cobra R$ 813 durante a Copa e R$ 258 no mês que antecede o torneio, a diferença chega a 215%. O Royal Savassi, com a diária mais cara em termos absolutos, de R$ 915, também foi destaque.
Pressão da Match
A enorme variação dos preços é resultado de pelo menos dois fatores. Um deles é que o setor quer aproveitar o evento para faturar alto. Também pesa a margem de lucro cobrada pela empresa de hospitalidade da Fifa, a Match, estimada em 25%. Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Minas Gerais (ABIH-MG), Pedro Varella, é inegável que os empresários enxergam a Copa como uma oportunidade de ouro para lucrar.
“Os hotéis trabalham com uma tarifa de balcão, que geralmente oferece descontos. Mas em datas de grandes eventos, essas promoções são diminuídas. E isso acaba dando a sensação de exagero”, diz ele, que compara o setor à aviação. A expectativa, segundo Varella, é de casa cheia, com taxa de ocupação de 80%.
Para Maarten Van Sluys, da JR & MvS Consultores, especializada no setor hoteleiro, preços tão altos podem ser um gol contra. “A Match já devolveu 50% dos apartamentos previamente bloqueados e, em abril, encerra-se o prazo para confirmar o que sobrou do bloqueio. Como a tendência é de nova devolução, as tarifas não vão se sustentar. O setor tem um sonho que não vai se realizar”, afirma.

http://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/copa-provoca-alta-de-ate-tres-vezes-nos-precos-dos-hoteis-de-bh-1.228977

domingo, 23 de março de 2014

Biografia de Scorpions

Scorpions é uma banda de hard rock originária de Hannover, Alemanha. Já venderam mais de 75 milhões de álbuns. Ao contrário do usado algumas vezes, o nome da banda é apenas "Scorpions", e não "The Scorpions". 
foto: divulgação
História 

Formação e início de carreira 

Na Alemanha Ocidental, em 1965, os irmãos e guitarristas Michael Schenker e Rudolf Schenker decidem montar uma banda com os amigos Klaus Meine (como vocalista), Lothar Heimberg (no baixo) e Wolfgang Dziony (na bateria). Considera-se que, neste momento, surgia o hard rock e a primeira banda desse novo estilo musical, os Scorpions. Após gravarem uma fita demo, conseguem lançar o primeiro álbum, Lonesome Crow, em 1972. Apesar da boa repercussão da estréia, Lothar Heimberg e Wolfang Dziony resolvem deixar o grupo e pouco tempo depois, Michael Schenker torna-se guitarrista da banda londrina UFO. 

Sozinhos, Rudolf e Klaus dão continuidade ao trabalho e rapidamente entram em contato com o guitarrista Ulrich Roth (mais conhecido como Uli Jon Roth), que por sua vez convida o baixista Francis Buchholz e o baterista Jürgen Rosenthal para completar o grupo. 

Fazem algumas apresentações e assinam com a RCA, que lança o segundo disco Fly to the Rainbow, em 1974. No ano seguinte, Rudy Lenners assume a bateria e o álbum In Trance faz sucesso em toda a Europa, dando início a uma turnê que consagrou o Scorpions como uma das melhores bandas de hard rock ao vivo. 

A popularidade 

Em 1976, gravaram Virgin Killer que é um álbum clássico em sua carreira. Lenners descobre que tem um problema no coração e sai da banda para se tratar e em seu lugar entra Herman Rarebell que foi indicado por Michael Schenker. Em 1977 vão para o estúdio novamente e lançam o belíssimo álbum Taken By Force e em 1978 embarcam pela primeira vez para o Japão onde fizeram três grandes shows. Essa passagem pelo oriente ficou registrada no clássico álbum duplo ao vivo Tokyo Tapes que foi lançado no mesmo ano. 

Formados em 1965, os Scorpions passaram os primeiros 18 anos da sua carreira sem conseguirem muito sucesso nos EUA, embora já fossem bastante populares na Europa e no Japão. Foi em 1980, quando lançaram o álbum Animal Magnetism, que conquistaram de vez os fãs americanos. Chegaram a ficar entre os 10 melhores do mundo com seu décimo álbum, Love at First Sting e a balada Still Loving You. No início da década de 1990, tiveram êxito com o álbum Crazy World e a música "Wind of Change", inspirado nas mudanças político-sociais ocorridas no Leste Europeu e também no fim da Guerra Fria. 

Foi o primeiro grupo ocidental a tocar na Rússia após a extinção da União Soviética e, em 21 de julho de 1990 foram convidados a participar no espetáculo de Roger Waters, The Wall in Berlin, juntamente com outros convidados como Van Morrison e Bryan Adams. 

Sucesso comercial 

De volta à Alemanha Ocidental, mais uma baixa no Scorpions, Uli Jon Roth anuncia a sua saída para montar um novo projeto batizado de Electric Sun, entrando em seu lugar Matthias Jabs. O grupo grava uma seqüência de discos que mantiveram seu nome entre os maiores da época: Lovedrive (1979), Animal Magnetism (1980) e Blackout (1982). 

Em maio de 1983 a banda foi convidada para atuar no US Festival em California juntamente com os Quiet Riot, Judas Priest, Van Halen, Triumph e Ozzy Osbourne. 

Porém, seria o próximo trabalho Love at First Sting, de 1984, que conquistaria uma quantia considerável de fãs com os hits Rock You Like a Hurricane, Big City Nights e a balada Still Loving You. O disco ao vivo World Wide Live sai no ano seguinte e o grupo fica quatro anos sem lançar material inédito. 

Em janeiro de 1985 os Scorpions se apresentaram na primeira edição do festival Rock in Rio, ao lado de outras bandas como AC/DC, Iron Maiden, Queen, Whitesnake, Yes e Ozzy Osbourne. 

Somente em 1988, O álbum Savage Amusement chegou às lojas e também foi muito bem recebido. A coletânea Best of Rockers 'n' Ballads foi lançada em 1989 e em 1990 foi a vez do álbum mais bem sucedido da carreira dos Scorpions ser lançado. Crazy World, trazia a música "Wind of Change", que se tornou o maior sucesso da banda. Além de "Wind of Change", Crazy World trazia "Tease me, Please me", "Don't Believe Her", "Send Me An Angel" e "Hit Between the Eyes" que virou tema do filme "Freejack" estrelado pelo cantor Mick Jagger. 

Dias atuais (1992-presente) 

Em 1992, sofrem uma baixa inesperada: Francis Buchholz resolve sair da banda e é substituído por Ralph Rieckermann, músico de conservatório e que também fazia trilhas sonoras de filmes. Em 1993 lançam o álbum Face the Heat, que trazia a canção "Under the Same Sun" como o seu principal sucesso. O terceiro álbum ao vivo da carreira, Live Bites, sai em 1995 e Pure Instinct é lançado em 1996, tendo Curt Cress como baterista. Herman Rarebell decide deixar a banda e abrir uma gravadora em Monte Carlo, chamada Monaco Records, com apoio do príncipe Albert de Mônaco. James Kottak torna-se o novo baterista dos Scorpions. 

Gravam um álbum experimental chamado Eye to Eye em 1999 e resolvem explorar outros caminhos. O próximo passo dos Scorpions foi bem aceito pelos fãs e pela crítica por se tratar de algo totalmente inédito: a gravação de um álbum com a Orquestra Filarmônica de Berlim, a mais importante do mundo. Intitulado de Moment of Glory e lançado em 2000, esse álbum traz faixas como "Still Loving You", "Hurricane 2000" (uma nova versão de Rock You Like a Hurricane), entre outras, com novos arranjos orquestrados e que renderam o DVD Moment of Glory, gravado ao vivo em Hannover, na Alemanha. A criação dos arranjos e a regência da orquestra ficou a cargo do austríaco Christian Kolonovitz, que fez um excelente trabalho. 

Em 2001, Christian Kolonovitz repete a dose e rearranja outras canções para o projeto intitulado Acoustica. As apresentações acústicas, registradas no Convento do Beato, em Portugal, fizeram tanto sucesso quanto o trabalho anterior com a orquestra. Tiveram ainda o reforço de alguns músicos contratados, como o percussionista chileno Mario Argandona, para que as versões mais intimistas, executadas apenas com violão, soassem melhor. Entre os músicos de apoio, ainda havia a violoncelista romena Ariana Arcu; Johan Daansen, no terceiro violão; Hille Bemelmans, Liv Van Aelst e Kristel Van Craen, nos vocais de apoio; além do próprio Christian Kolonovitz, no piano e órgão Hammond. 

Em 2004, lançam o álbum Unbreakable, que era aguardado com grande expectativa pelos fãs, pois havia cinco anos desde Eye to Eye que um álbum contendo canções inéditas não era lançado. O trabalho foi bem recebido pelos fãs. Com o álbum Unbreakable também foi apresentado o novo baixista da banda: o polonês Paweł Mąciwoda, que substituiu Ralph Rieckermann, que deixou a banda pouco antes das gravações de Unbreakable e deu sequência ao seu trabalho de trilhas sonoras de filmes. A banda incluiu o Brasil na turnê Unbreakable e fizeram três shows no país em 2005. Os músicos apresentaram sucessos como "Wind of Change", "Rock You Like a Hurricane" e "New Generation", sendo esta última sua música de trabalho na turnê. O álbum mais recente Humanity: Hour I foi lançado na segunda quinzena de maio de 2007.

http://www.letras.com.br/#!biografia/scorpions

Maioria apoiava Jango, revela pesquisa inédita

Aline Louise - Hoje em Dia
João Goulart_Estadao
Há quase 50 anos, em 31 de março de 1964, os militares depuseram o então presidente João Goulart, considerado uma “ameaça comunista”, e instituiram no Brasil uma ditadura que durou 21 anos. Durante muito tempo, o golpe foi tratado como uma revolução e acreditava-se que o ato teve pleno apoio popular. Agora, estudos revelam que Jango e as reformas que defendia, na verdade, tinham apoio da maioria da população. 
 
De acordo com pesquisa Ibope feita entre 9 e 16 de março de 1964, 66% da população de São Paulo consideravam a reforma agrária necessária. Tinham a mesma opinião 67% da população de Belo Horizonte e 82% dos moradores do Rio de Janeiro. A atuação do presidente João Goulart também não tinha uma avaliação negativa. Se ele pudesse se candidatar novamente para o cargo, votariam nele 40% da população de SP, 39% de BH e 51% do RJ. 
 
Os dados foram levantados pelo professor Luiz Antônio Dias, chefe do Departamento de História da PUC de São Paulo. Parte dessas pesquisas são analisadas em um capítulo da coletânea “O jornalismo e o golpe de 1964: 50 anos depois”, que será lançada no dia 14 de abril, no Rio de Janeiro. 
 
“Quando começou a se colocar o João Goulart como uma opção para ser votado, ele teve adesão superior até a de Juscelino Kubitschek, que era o nome mais expressivo naquele momento. Mas esses números, que foram encomendados pela Federação do Comércio de São Paulo, que fazia oposição ao governo, não foram divulgados na época. Goulart tinha uma possibilidade real de ser reeleito, caso fosse candidato”, reflete.
 
Mais pobres
 
“Entre os mais pobres, 86% consideravam o governo bom, ótimo ou regular. A sua média de aprovação era de 72%. Mesmo entre as classes A e B, sua aprovação era superior a 60%”, revela o professor. Contudo, Luiz Antônio ressalta que “parte das elites tinha preocupação com a ascensão das camadas populares e existia de fato a ideia de que as coisas estavam fugindo do controle, principalmente por causa das manifestações e greves que eclodiam pelo país”.
 
Segundo o professor, apesar de as pesquisas demonstrarem que a população não associava Goulart diretamente ao comunismo, o medo desta “ameaça” era real. Outro fator que foi preponderante para legitimar o golpe, na avaliação de Luiz Antonio, foi a atuação da imprensa. “A grande mídia divulgava a ideia de que João Goulart era frágil e seria um refém dos comunistas, que ele próprio havia colocado no governo. Com exceção do Última Hora, toda grande imprensa fez oposição ao Goulart. Essa mídia refletia a opinião da elite, que tinha medo da ascensão popular”.
 
Só a partir de 1966 o posicionamento da grande impressa começou a mudar. “Foi quando se percebeu que os militares não entregariam o governo aos civis”, conclui. Em dezembro de 1968, na gestão do presidente Costa e Silva, foi editado o AI-5, que endureceu a censura à imprensa. 
 
Mídia teve relação ambígua com regime militar 
 
A relação da mídia com o regime militar foi ambígua, analisa o historiador Luiz Antônio Dias. “Assim como teve o colaboracionismo, também havia muitos jornais menores com postura crítica contra o regime repressor e, mesmo dentro das redações, nem sempre os jornalistas refletiam o posicionamento da empresa e sofreram perseguição”, diz. 
 
E essa repressão sobre os jornais mais críticos ao governo militar começou antes mesmo do golpe de 1964. Aos 86 anos de idade, o jornalista José Maria Rabêlo lembra com lucidez de um dos episódios mais violentos contra a imprensa brasileira, ainda em 1961, quando em Minas Gerais já era articulado o golpe. 
 
Punaro Bley
 
“Em outubro daquele ano foi nomeado para o comando da ID-4, a Infantaria Divisionária, a mais importante unidade do Exército em BH, o general João Punaro Bley, declarado opositor de Jango. O Binômio, jornal que eu dirigia, quis saber quem era afinal aquele general. Então o jornal mandou ao Espírito Santo dois repórteres para fazerem um levantamento da sua vida. Ele havia sido interventor por lá durante o Estado Novo”, recorda o jornalista. 
 
José Maria Rabêlo conta que seus colegas descobriram uma série de “horrores praticados pelo general durante sua interventoria, desde perseguição à imprensa até a tortura”. O Binômio publicou uma reportagem de página inteira, com chamada na capa, com os títulos: “Quem é afinal esse general Bley? Democrata hoje, fascista ontem”. 
 
Não demorou muito para o general Bley ir tirar satisfação. “Ele apareceu na redação questionando quem eram os autores daquela ‘merda’. Eu respondi que não era ‘merda’, mas uma reportagem fundamentada”, conta José Maria Rabêlo, que chegou “às vias de fato” com o general. No mesmo dia, cerca de 200 homens do Exército e da Aeronáutica depredaram as instalações do Binômio. “Só escapei porque deixei o jornal depois da briga. Essa violência foi noticiada no mundo inteiro”, lembra o jornalista, que depois do golpe viveu exilado por mais de 15 anos. 
 
Ponto a ponto
 
• Diante das propostas de reforma de base do governo João Goulart, setores conservadores da sociedade, militares, e entidades representativas do empresariado pressionam a queda do presidente, acusado de ser uma “ameaça comunista”.
 
• A grande mídia reflete os desejos destes setores. Veículos como O Estado de S. Paulo; Organizações Globo; TV Record; Jornal do Brasil e também o grupo Folhas mantêm relações estreitas com dois órgãos extremamente importantes no período: o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad). O complexo Ipes/Ibad coordenava uma ampla campanha política e ideológica contra o governo Jango. 
 
• O Ibad teria, inclusive, recebido recursos dos Estados Unidos para financiar campanhas de opositores ao Goulart, como Carlos Lacerda, Magalhães Pinto e Ademar de Barros, além de uma série de deputados e senadores. 
 
• Em 31 de março de 1964, com a grande mídia a favor e suposto apoio popular, os militares depõem o presidente João Goulart. 
 
• Em 1º de abril de 1964, prisões e protestos se espalham pelo país em consequência do golpe militar. A sede da UNE, no Rio, é incendiada e tomada pelo governo militar.
 
• Em 2 de abril, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli , assume a Presidência interinamente, mas o poder de fato passa a ser exercido por uma junta, autodenominada Comando Supremo da Revolução, composta pelo general Artur da Costa e Silva, almirante Augusto Rademaker Grünewald e o brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo.
 
• Em 9 de abril de 1964 é editado o Ato Institucional nº 1 (AI-1), que permite a cassação de mandatos e a suspensão de direitos políticos. São marcadas eleições indiretas em dois dias para Presidência e vice-presidência da República, com mandato válido até 31 de janeiro de 1966.
 
• No dia seguinte é divulgada a primeira lista de cassados pelo AI-1. Entre os 102 nomes estão o de João Goulart, Jânio Quadros, Luís Carlos Prestes, Leonel Brizola e Celso Furtado, assim como 29 líderes sindicais e alguns oficias das Forças Armadas.
 
• Em 15 de abril, o marechal Humberto de Alencar Castello Branco assume a Presidência, eleito pelo Congresso Nacional. Castelo Branco deveria governar até 31 de janeiro de 1966. Porém, seu mandato é prorrogado e são suspensas as eleições presidenciais diretas previstas para 3 de outubro de 1965. Ele permanece até 15 de março de 1967.
 
• Em 9 maio de 1964, o dirigente comunista Carlos Marighella é baleado e preso no Rio. Em 27 de outubro do mesmo ano, o Congresso aprova o projeto Suplicy, que extingue a UNE e proíbe as organizações estudantis de realizar protestos. Em 4 de novembro de 1969, é executado por agentes do Dops em São Paulo.
 
• O governo do general Emílio Garrastazu Medici, de 1969 a 1974, é considerado o mais duro do período militar. A repressão à luta armada cresce e uma severa política de censura é colocada em execução. São os anos de chumbo.

Disponível em:
http://www.hojeemdia.com.br/noticias/politica/maioria-apoiava-jango-revela-pesquisa-inedita-1.228800

domingo, 16 de março de 2014

Universitários lideraram um dos principais focos de combate à ditadura em BH

Grupo reuniu alunos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Leonardo Augusto

Publicação: 16/03/2014 00:12 Atualização: 16/03/2014 08:29

Estudantes sitiados na Escola de Direito da UFMG, em 1966, reagem a ataques de militares. O advogado Carlos Cateb relembra o momento durante visita à faculdade  (Tulio Santos/EM/D.A Press/Reprodução)
Estudantes sitiados na Escola de Direito da UFMG, em 1966, reagem a ataques de militares. O advogado Carlos Cateb relembra o momento durante visita à faculdade


 Uma Kombi estaciona em frente a uma repartição pública do estado na Região Central de Belo Horizonte. Quatro homens descem do veículo e entram no prédio. Apresentam-se como funcionários da fabricante das duas impressoras de grande porte que acabavam de ser compradas pelo governo. “As máquinas precisam de manutenção. Temos que levá-las.” Na Kombi lá fora, lê-se em suas portas a mesma marca grafada nos equipamentos. As impressoras são entregues e nunca mais retornam para o governo. Viraram replicadoras de boletins, jornais e panfletos contra a ditadura militar.

O ano era 1966. Os “funcionários” da fabricante de impressoras eram, na verdade, alunos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) militantes do movimento estudantil contrário ao governo imposto pelos militares no Golpe de 1964, que completa 50 anos no dia 31. As cinco décadas do início do período mais sombrio da história brasileira, que durou 21 anos, são o tema de uma série de reportagens especiais que começaram a ser publicadas pelo Estado de Minas em 23 de fevereiro e seguem até 1º de abril.

O roubo das impressoras só teve sucesso pela ousadia e perspicácia dos estudantes. Mas o acesso à informação de que as máquinas estavam na repartição pública só foi possível pela existência de uma rede de informantes, anônimos, também contrários ao regime militar. “Tínhamos gente lá dentro”, conta Waldo Silva, de 70 anos, um dos mentores da operação para captura das impressoras.

O apoio mais expressivo ao movimento estudantil, no entanto, veio de dentro das próprias escolas. Reitores, diretores de cursos e professores, que, muitas vezes mesmo sem concordar com a ideologia de esquerda de seus alunos, invariavelmente defendiam o direito de manifestação. A atuação do corpo docente da UFMG foi fundamental nos três principais confrontos de estudantes contra os policiais da repressão na década de 1960 em Belo Horizonte: os cercos à Fafich e às escolas de Direito e Medicina.

Pela defesa dos alunos, o reitor Gérson de Britto Mello Boson, que comandou a universidade de fevereiro de 1967 a outubro de 1969, foi cassado pelo regime militar. Outro ocupante do cargo, Aluísio Pimenta, que esteve no posto entre fevereiro de 1964 e o mesmo mês de 1967, foi o principal responsável pelas negociações com o Exército para o fim de manifestação contra a ditadura organizada por alunos do curso de direito da UFMG no prédio da escola, na Praça Afonso Arinos, Região Central da capital mineira, em 1966.

Com a recusa dos estudantes em deixar o local, o Exército cercou o prédio. A mobilização durou três dias. “Não entrava nada. De vez em quando uma cesta com alguma fruta. Lá de cima jogávamos pedras contra os militares, que nos atacavam com bombas de gás”, lembra o advogado Carlos Cateb, um dos alunos que permaneceram dentro da faculdade durante o cerco. Apesar de toda a pressão, os militares não entraram. A área em que os estudantes se concentraram para o confronto com o Exército, uma espécie de pilotis do prédio da escola, foi entregue ao Diretório Acadêmico do curso e recebeu o nome de um ex-aluno, José Carlos Novaes da Mata Machado, assassinado pela ditadura em 1973.

Paraquedistas 

Cateb conta que, com o golpe em 1964, as salas do curso de direito passaram a ter policiais militares e soldados do Exército que assistiam às aulas dos professores como se fossem alunos do curso. “Nós os chamávamos de paraquedistas, por realmente serem e nunca ter prestado vestibular. Estavam lá para nos vigiar. E não escondiam nada. Muitos iam de farda para a escola”, diz.

Concluído o curso, Cateb foi encarregado de organizar a formatura do grupo de alunos que se recusava a receber o diploma ao lado dos paraquedistas. “Fizemos a cerimônia, considerada não oficial, no Cine Metrópole, com a presença de aproximadamente 80 estudantes. Já os militares e outra parte dos alunos que prestaram vestibular se formaram na Reitoria.”

O histórico de Cateb dentro da escola, e também ao longo da vida profissional – o advogado trabalhou para vários presos políticos durante a ditadura –, fez com que o ex-estudante da UFMG fosse considerado pelos militares não só como “comunista” – tratamento comum a adversários do regime –, mas também como agente do governo da então União Soviética. “Uma vez, um coronel chegou a dizer que eu recebia em rublos.”

Cateb ficou conhecido no meio jurídico por usar um sistema de comunicação com os clientes que burlava a segurança e nunca foi descoberto pelos militares. Nas audiências, sempre ao lado de pelo menos dois guardas, o advogado e o preso político colocavam maços de cigarros sobre a mesa. O cliente via o maço de Cateb e na próxima audiência tinha um da mesma marca. Ambos retiravam o filtro, colocavam mensagens cifradas e voltavam com o filtro. Na outra sessão, os maços eram trocados. “Acho que com isso conseguimos salvar a vida de algumas pessoas”, afirma Cateb. 

sábado, 15 de março de 2014

As crises nas bolsas de 1929 e 2008. Reflexos no Brasil


Data de Publicação: 27 de setembro de 2008
Por José Alberto Couto Maciel
 


Tenho lido sobre o receio de que a crise atual na economia dos Estados Unidos da América possa ter reflexos negativos no Brasil, caso alcance um nível semelhante à crise existente naquele país em 1929.
Alguns gurus da economia brasileira afirmam que esta crise não chegará ao nível do que aconteceu no passado, e políticos de peso relevante, inclusive o presidente Lula, consideram que o Brasil está com uma economia tão estabilizada, que não será prejudicado em razão dos prejuízos econômicos internacionais.
É preciso, porém, melhor analisar o que aconteceu em 1929 e o que está acontecendo agora, porque parece-me que os que falam desconhecem, e os que conhecem não falam.
No início do século XX, os Estados Unidos estavam vivendo um período de prosperidade, sendo que, a partir de 1925, a economia norte-americana começou a passar por sérias dificuldades.Os americanos, com um desenvolvimento elevado na época, passaram a produzir muito, ao mesmo tempo usando das novas máquinas, o que passou a gerar determinado número de desempregados.A produção elevada tinha como objetivo os grandes países europeus, que eram os potenciais compradores dos Estados Unidos, como também, internamente, os produtos eram comercializados com fazendeiros, mediante empréstimos bancários.
Acontece que, após a primeira guerra, os países da Europa entraram em recesso de compras, tendo em vista a sua recuperação econômica, e os fazendeiros não mais obtinham os empréstimos, porque os bancos entraram em crise, diante de uma superprodução sem consumidores.As indústrias, que já iniciavam as demissões de empregados, decorrentes da modernização do parque industrial, passaram a demitir em massa, porque tiveram que reduzir drasticamente sua produção e, em conseqüência, o preço das ações na Bolsa de Nova York despencou, levando à falência bancos, indústrias e empresas rurais, deixando desempregados milhares de norte-americanos.Mas qual o reflexo desta crise no Brasil que alguns têm receio que novamente aconteça, como se fosse ela muito pior do que está acontecendo atualmente?O reflexo da crise de 1929 na economia brasileira, ao contrário do que muitos pensam, não foi prejudicial em seu todo aos brasileiros. Certamente que sofreram os plantadores de café, porque tínhamos os EUA como seu principal comprador, sendo que, com a economia americana debilitada, o preço do produto despencou, gerando uma superprodução e muitos desempregados no setor cafeeiro em nosso país.Em contrapartida, porém, a Grande Depressão acelerou o processo de industrialização, já que os próprios barões do café passaram a aplicar em indústrias, desenvolvendo-as em um país que era em quase sua totalidade ruralista.Assim, é preciso que os economistas que acreditam que o mal maior seria semelhante à crise de 1929, que a esqueçam, pois nada tem ela a ver com o mundo globalizado em que hoje vivemos.Afirmar que o Brasil está preparado nesta época de globalização desenfreada, onde não existem mais culturas próprias de cada povo e nação, onde os valores éticos privilegiam a especulação em detrimento da produção, em um mundo no qual, sentados na televisão, nós, de todos os países, assistimos, em nome da democracia, ao assassinato de crianças e torturas pelo país produtor mais forte, afirmar que estamos preparados para nos manter estáveis enquanto o resto do mundo se desestabiliza, ou é ironia, ou ignorância...O que há, atualmente, é uma mundialização da economia, sendo que nações economicamente auto-suficientes tendem a desaparecer. Vivemos em um mundo no qual o presidente de uma grande multinacional tem maior relevância do que o político mais importante de um país, sendo que os executivos, em nível mundial, acumulam muito mais poder do que os políticos defendendo sua nação.
Os direitos sociais, atualmente, transformam-se em mercadorias e as conquistas dos trabalhadores devem ser flexibilizadas, porque as grandes empresas ingressam com o capital que interessa a determinado país, se nele o preço do trabalho for insignificante; e daí vemos os tênis, as calças jeans, e produtos mais vendidos mundialmente, com as etiquetas “made in China”, ou “made in Corea”, ou em outros países explorados.
Sabemos que hoje, pelo trabalho terceirizado, empresas americanas contratam escritórios de contabilidade na Índia para que façam seus serviços durante a noite, e por um preço irrisório de mão-de-obra.
Enquanto o Sheik constrói em Dubai, a cidade mais moderna do mundo, indianos e paquistaneses trabalham para tanto 24 horas por dia, ao sol de 50 graus, dormindo em cubículos no deserto com 10 a 20 pessoas, recebendo um salário de US$ 200 mensais, sem qualquer garantia, a chamada flexibilização. Vejam que a globalização não é só na economia, como também integra a pobreza, porque os países mais industrializados, ou que possuem, por força do petróleo, riquezas fantásticas, como os Emirados Árabes, não pensam em melhorar o nível social dos mais pobres, mas em escravizá-los, uma escravidão nova, globalizada.
Dentro desta aldeia global em que vivemos, afirmar que uma das maiores crises econômicas em Wall Street, que afeta o resto do mundo, não afetará o Brasil, é tentar passar para o povo brasileiro um otimismo no caos, uma vez que estamos todos no mesmo barco.Seria interessante dar um exemplo, para se ter uma idéia prática do que é a globalização e seus efeitos imediatos nos demais países. As conseqüências no mundo globalizado podem decorrer de um sistema que se tornou instável, ou de uma prática aleatória, o que alguém chamou de Teoria do Caos.Houve uma explosão em um oleoduto na Nigéria e os preços das ações do ramo petrolífero dispararam, ganhando os apostadores na bolsa de valores milhares com as ações relativas às empresas petrolíferas.Mas a explicação para este desastre, e aqui vem o interessante exemplo do caos predominando sobre os mercados do mundo: um trabalhador da escavadeira, cansado porque teria dormido mal, perfurou o oleoduto, causando a explosão; ou seja, aquele nigeriano, cansado, afetou o mundo por um dia inteiro.Tudo isso serve para prevenir os brasileiros de que uma crise de 2008 na bolsa de valores de Nova York certamente influenciará, sim, a nossa economia, e devemos estar prevenidos, até mesmo porque um operário, com uma noite mal-dormida, poderá trazer, de um momento para o outro, noites mal-dormidas para todos nós no mundo, inclusive para o nosso presidente, tão otimista.
Disponível em: <http://www.brasiliaemdia.com.br/2008/9/25/Pagina5382.htm>. Acessado em 12/10/2008 

Grupos de direita e esquerda podem se enfrentar nas ruas no aniversário do golpe de 64

No mês de aniversário de 50 anos, grupos que exaltam e contestam o legado do regime militar organizam manifestações nas capitais e podem bater de frente na Praça da Sé, em São Paulo



Publicação: 15/03/2014 06:00 Atualização: 15/03/2014 07:12

No rastro das manifestações que tomaram as ruas de todo o país em junho, grupos de direita e esquerda prometem ocupar novamente as vias públicas, este mês, em razão do aniversário de 50 anos do golpe de 64. Pela primeira vez desde o fim da ditadura, defensores do regime militar prometem sair para defender publicamente o movimento. O epicentro da queda-de-braço será a cidade de São Paulo, onde está sendo reeditada a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que aconteceu uma semana antes de o Exército tomar o poder no país e defendia a queda do então presidente João Goulart. Agora organizada por entidades civis, entre elas a Organização de Combate a Corrupção        (OCCAlerta Brasil), a marcha está marcada para o próximo dia 22, na Praça da Sé. 



No sentido contrário, a entidade Antifacista (Antifa), que atua em vários países, promete ocupar o mesmo espaço, Praça da Sé, com o slogan “ditadura nunca mais”, também no dia 22. Inicialmente, a manifestação iria acontecer no dia 1º de abril, mas a data foi alterada com a convocação para a marcha. O Antifa diz em sua página nas redes sociais que mantém o anominato de seus integrantes, mas esclarece ser um grupo de combate a qualquer tipo de facismo, lutando contra racismo, homofobia, vandalismos, entre outras bandeiras. Em Belo Horizonte, o grupo fez manifestações contrárias às ações do Black Bloc, durante as manifestações na Copa das Confederações, no ano passado. O encontro entre os defensores do golpe e os antifa tende a acontecer também em Curitiba e no Rio de Janeiro.

Nome  Belo Horizonte também não vai ficar de fora do mapa dos protestos contra o golpe. No dia 1º de abril, a Frente Independente pela Memória e Justiça de Minas está convocando a população para ocupar o Elevado Castelo Branco, que liga a Região Central da Capital à Avenida Pedro II, em tributo aos mortos e desaparecidos do regime militar. O viaduto está sem nome desde que a Câmara Municipal aprovou projeto para retirada da homenagem a Castelo Branco, primeiro presidente da ditadura militar, mas a Casa ainda não apreciou o projeto para dar o nome em homenagem à militante dos Direitos Humanos e ex-vereadora da capital, Helena Greco. De acordo com sua filha, Heloísa Greco, durante a manifestação, o elevado receberá uma faixa com o nome de sua mãe, conforme o desejo da população.

De acordo com a OCCAlerta Brasil, que apoia com a divulgação da marcha da família, esta manifestação é em repúdio à “ditadura proletária do PT”, responsável pela “farsa do julgamento do mensalão, as obras superfaturadas da Copa, a má gestão da coisa pública, morte de milhares de compatriotas nas filas dos hospitais, falta de medicamentos, impostos mais caros do mundo, arrecadação recorde, aumento da roubalheira e institucionalização da corrupção e da impunidade.” Defendem ainda, segundo a organização, o impeachment da presidente Dilma. Em julho, a entidade foi responsável pela mesma marcha que aconteceu em São Paulo e Rio e reuniu pouco mais de 100 pessoas em frente ao Museu de Arte Moderna (Masp).

Militares  Pouco afeitos à manifestação públicas, militares começam a deixar a caserna para dar apoio ao golpe. Na revista Sociedade militar, o general de Brigada Paulo Chagas se manifestou a favor da Marcha da Família. “Os militares em reserva se têm somados aos civis que enxergam em uma atitude das Forças Armadas a tábua da salvação para a Pátria ameaçada, quando não são eles próprios os alvos do clamor daqueles que já identificam nas imagens dramáticas da capital venezuelana a cor fúnebre do nosso destino”, escreveu. Por sua vez, o general de Exército na reserva Rômulo Bini Pereira, depois de assinar editorial em jornal impresso em defesa do golpe de 64, convocou os que pensam como ele a se manifestarem no dia 31 de março, de forma simbólica, “com uma ruidosa saudação advinda de salva de foguetes, em hora e data marcadas”, a partir das 20h. E fez uma advertência: “Não usem armas”.saiba mais

MARCHA DE 64

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade é um nome comum a uma série de eventos ocorridos em março de 1964 em resposta à considerada “ameaça comunista” do comício do presidente João Goulart no dia 13 de março daquele ano. Neste ato, o presidente prometeu reformas de base, que eram uma série de mudanças administrativas, jurídicas, econômicas e agrárias, que feriam os interesses das classes média e alta, já que haveria distribuição de bens e terras. Vários grupos sociais, o clero, as famílias e os setores políticos mais conservadores se organizaram em marchas, levando às ruas mais de 1 milhão de pessoas, no intuito de derrubar o presidente João Goulart do governo. A primeira aconteceu no dia 19 de março, dia dedicado a São José, padroeiro das famílias, em São Paulo, com uma participação de 500 mil pessoas, organizada pela Campanha da Mulher pela Democracia (Camde), da União Cívica Feminina, da Fraterna Amizade Urbana e Rural, entre outros grupos. Na ocasião, foi distribuído o “Manifesto ao povo do Brasil” pedindo o afastamento do presidente João Goulart.

http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2014/03/15/interna_politica,508121/grupos-de-direita-e-esquerda-podem-se-enfrentar-nas-ruas-no-aniversario-do-golpe-de-64.shtml