domingo, 29 de junho de 2014

Primeira Guerra Mundial foi berço de um novo mundo

Há exatos 100 anos o mundo vivia um dos mais importantes e trágicos capítulos de sua história. O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, da Áustria, por um nacionalista sérvio dava início a um conflito diplomático que provocaria a primeira grande guerra de proporções globais da humanidade.
 
A Grande Guerra (como foi chamada até que a Segunda fosse declarada, em 1939) definiu fronteiras, políticas econômicas e ideologias desde o início no fatídico 28 de junho de 1914 e que perdurou até novembro de 1918. Os efeitos, diretos ou indiretos, moldaram a política internacional até a eclosão do conflito seguinte e juntos definiram o tom do século 20.
 
Como conflito, os números são impressionantes, principalmente por tratar-se de um época em que vários avanços tecnológicos estavam nascendo e a cavalaria prussiana ainda era um dos mais temidos aparatos bélicos. 
 Ofensiva
Ofensiva - Cratera aberta por um bombardeio alemão durante a Primeira Guerra Mundial
 
Entrincheirados, sujos, doentes e mal-equipados, 10 milhões de soldados morreram nos quatro anos de confronto que colocou frente a frente os antigos impérios contra as nações democráticas e modernas que se ergueram e se consolidaram ao longo do século 19, após a Era das Revoluções, como define o historiador britânico Eric Hobsbawm.
 
Estima-se que pelo menos 7 milhões de pessoas tenham sido incapacitadas permanentemente e outros 15 milhões tenham se ferido gravemente.
Trincheira francesa
     DEFENSIVA - Trincheira francesa para segurar invasão dos inimigos. Várias teconologias
                                                              foram desenvolvidas a partir do conflito
 
Mais do que a guerra em si, com suas importantes batalhas e duras perdas para ambos os lados (Rússia, depois EUA, França e Inglaterra, de um lado, e Império Austro-Húngaro, Império Otomano e Alemanha, de outro), foram as consequências do pós-guerra que deixaram feridas que até hoje sangram no Velho Mundo. 
 
A mais aberta e dolorida ainda pode ser vista em algumas cidadelas arrasadas pelos intensos bombardeios que ocorreram no continente com a Segunda Guerra Mundial, que eclodiu em 1939 como consequência direta das decisões, imposições e alterações de fronteira impostas pelo Tratado de Versalhes – aAliados
ALIADOS - Infantaria francesa e artilharia britânica se posicionam para confrontos 
 
Nova potência
 
Outras consequências que ajudaram a redesenhar o mapa das potências no mundo foram de ordem econô[/LEAD][LEAD]mica e catapultaram os Estados Unidos à condição de potência, não somente do ponto de vista bélico, mas também em produção e em “caixa”.
 
Com os esforços europeus das grandes nações voltados para o conflito, coube aos EUA assumir e liderar o papel de principal produtor industrial do mundo, o que ajudou a gerar uma crise de excesso de bens, culminando no Crack da Bolsa de 1929.
 
Modelos autoritários eclodem
 
Após a Primeira Guerra, viu-se o crescimento de modelos autoritários para ambos os lados, com fascistas, nazistas e comunistas. Essas visões mais radicais ajudariam no processo de eclosão da Segunda Guerra e, posteriormente, na Guerra Fria, que durou até meados dos anos 80, no século passado. “A causa e o objetivo centrais parecem ser sempre os mesmos: garantir a hegemonia mercadológica em áreas de influência na corrida imperialista. A observação detalhada da eclosão dos dois conflitos mundiais mostra alarmantes semelhanças com os acontecimentos recentes. 
Inicialmente, vemos o esvaziamento de conteúdo dos regimes que se supõem ‘democráticos’ e da própria noção de democracia, soberania e liberdade. O descrédito na democracia foi alavanca das duas guerras mundiais”, avalia Ramon Ramalho, cientista social pela UFMG, mestre em pesquisa em ciências sociais e doutorando em sociologia pela Universidad de Buenos Aires.
 
Brasil tem participação tímida, mas ajuda a fundar o embrião da ONU
 
É possível detectar a participação do Brasil na Guerra, mas de forma um tanto tímida. Inicialmente neutro, o país, governado então pelo mineiro Venceslau Brás, eleito em 1º de março, só tomou uma postura mais efetiva ao ter o paquete Paraná torpedeado por um submarino alemão sem maiores explicações.
 
O país, então, enviou tropas ao front ocidental, mas atuou mesmo como exportador de matérias-primas. Contudo, no pós-guerra o país teve ações mais contundentes, sobretudo no que diz respeito à fundação da Liga das Nações, instituição diplomática internacional que serviu como embrião para o estabelecimento da Organização das Nações Unidas (ONU).
 
“A participação brasileira na Primeira Guerra Mundial, no aspecto militar, se resumiu ao envio de tropas ao front ocidental e ao manejo de sete embarcações brasileiras no Atlântico. No aspecto diplomático, vale destacar a participação da comitiva brasileira na Conferência de Paz de Paris, em 1919, chefiada por Epitácio Pessoa”, afirma Enrique Luz, bacharel em História e Letras, mestre em História pela UFMG e doutorando do Centro de Pesquisas sobre o Antissemitismo da Universidade Técnica de Berlim.
 
Dessa forma, o Brasil tornou-se um dos membros-fundadores da Liga das Nações. “O primeiro esforço diplomático em escala mundial dedicado à prevenção de conflitos internacionais”, explica Luz.
 
A longa duração dos conflitos possibilitou alguma prosperidade aos produtores de matérias-primas, como a borracha, que ainda vivia seus bons anos devido ao aumento da demanda mundial.
 
Contudo, nessa época, o país passa por profundas transformações econômicas. A produção do café, base de sustentação, começa a entrar em declínio, forçando o Brasil a se modernizar, mesmo dentro da chamada estrutura da República Velha.
 
Tensão crescente no cenário atual e com novos protagonistas
 
Se vivemos dias de relativa paz global desde o início dos anos 90 (passados os duros anos de Guerra Fria, com confrontos pesados no Oriente Médio, Vietnã e Coreia, que quase levaram o mundo a um conflito generalizado novamente), este ano desenha-se com um cenário político instável e beligerante.
 
Desta vez, os confrontos não estão mais nos rincões do Oriente Médio, como no Iraque, ou nos confins da Ásia, no Afeganistão. A Europa é novamente cenário, em sua porção oriental, de tensões que trazem novamente o temor de confrontos em escalas como as vistas na primeira metade do século 20.
 
A Ucrânia foi palco de revoltas e problemas diplomáticos com Moscou. Esse confronto acendeu a luz vermelha na ONU e o clima ficou bastante tenso.
 
“Os 14 anos do século 21 vêm marcando uma média de quase uma invasão militar por ano. Já somamos 12 conflitos bélicos diretos. A escala de tensão é crescente. Porém, diferentemente das épocas de guerras mundiais anteriores, as economias se encontram muito mais vinculadas e interdependentes”, analisa o cientista social Ramon Ramalho.
 
O medo de uma guerra nuclear é um fator que contribui para conter a gana bélica dos mais beligerantes. Além disso, avalia Ramalho, os diversos dispositivos diplomáticos e econômicos podem ser considerados eficientes para conter os ânimos mais exaltados.
 
É neste ponto que o Brasil procura se destacar, de olho em um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. “A postura brasileira frente aos conflitos atuais é pela resolução pacífica”, afirma Enrique Luz. Para ele, a política externa brasileira ainda não acompanha o novo patamar que o país alcançou internacionalmente. 
 
Economia de BH sente efeitos da crise mundial
 
Recém-fundada no último triênio do século 19 para ser a nova e moderna capital das Minas Gerais, Belo Horizonte sentiu fortemente os efeitos da Grande Guerra.
 
Com cerca de 40 mil habitantes, a cidade sofreu o peso das crises instaladas com a decadência do café e os problemas econômicos que assolavam o país desde 1912.
 
Uma das consequências foi a interrupção da construção da Catedral da Boa Viagem, que foi retomada apenas em 1923.
Além disso, a ampliação do Colégio Arnaldo, uma das mais tradicionais escolas da cidade, teve que ser interrompida, pois os 50 mil marcos destinados às obras foram comprometidos.
 
Com o desenvolvimento econômico interrompido, o prefeito da época, Affonso Vaz de Melo, expôs sua visão sobre o cenário ao fim do conflito, já em 1918, em um relatório apresentado aos membros do Conselho Deliberativo da Capital.
 
“Apesar da situação de dificuldades que a humanidade atravessa, repercutindo ainda que não acentuadamente em nosso país, sentimos os seus efeitos no encarecimento da vida antes pelo isolamento em que nos achamos do Velho Mundo, do que pela nossa condição de beligerantes na conflagração mundial”, disse.
 
Batalhas sangrentas
 
A batalha de Verdun ficou como o símbolo do horror da Primeira Guerra Mundial (1914-18), mas são lembrados outros cenários bélicos do conflito que mobilizou tropas de todos os continentes e deixou milhões de mortos na Europa: 
- Primeira Batalha do Marne (a leste de Paris), de 5 a 12 de setembro de 1914
- Batalha dos Dardanelos (1915), nome do Estreito que dá acesso a Istambul e ao Mar Negro, fechado pela Turquia no início da guerra
- Batalha de Verdun (1916), considerada pelos franceses o símbolo da Grande Guerra
- Batalha de Somme (norte da França), a mais letal (1,2 milhão de vítimas e mais de 400.000 mortos 
- Chemin des Dames (Caminho das Damas)
- Segunda batalha do Marne (leste de Paris)

 cordo assinado ao fim da Grande Guerra que determinou sanções duríssimas aos alemães, considerados os grandes vilões e humilhados pelos “vencedores”.

Disponível em: http://www.hojeemdia.com.br/noticias/politica/primeira-guerra-mundial-foi-berco-de-um-novo-mundo-1.250973